NATUREZA MORTA
As bombas destruíram todas as casas menos uma,
as casas onde viviam os homens que não tinham cor nenhuma.
Por entre os escombros
alguns milhões de cadáveres contavam anedotas e encolhiam os ombros.
Quando já não havia mais homens para matar,
nem pedras por calcinar,
nem searas por destruir,
foi só então que as bombas cessaram de cair.
Sobre a mesa vermelha
uma verde maçã e uma garrafa amarela e torta.
Natureza morta.
Felizmente as bombas destruíram todas as casas menos uma,
as casas em que viviam os homens que não tinham cor nenhuma.
Aí, com perícia esmerada,
os sábios reconstituíram um corpo, tão perfeito como se fosse vivo.
A casa, essa, foi reservada
para museu e arquivo.
António Gedeão
4 comentários:
Como monumento involuntário à própria insanidade...
Abraço.
Não sei comentar este poema de Gedeão. Apenas senti-lo bem cá dentro. E vê-lo...
Um beijo grande
Um arquivo de dor!
beijos
samuel: perfeito monumento à insanidade.
Um abraço.
Maria: é a bestialidade em estado «puro»...
Um beijo grande.
Ana Camarra: exacto!
Um beijo.
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