SIMULTANEIDADES...

O Presidente da República marcou as eleições legislativas para 27 de Setembro - e não, como era sua vontade, para a mesma data das autárquicas.
Ele bem artimanhou, bem tabuzou, bem cavacou, mas não conseguiu impor a sua vontade: a operação eleições simultâneas foi derrotada.
Tratou-se, de facto, de uma operação montada a rigor: Cavaco começou por dar sinais de querer meter as duas eleições no mesmo saco; depois, logrou atrair para a sua «causa» a generalidade dos propagandistas da política de direita; e chegou, mesmo, a invocar uma misteriosa «sondagem», segundo a qual a maioria dos portugueses defendia a simultaneidade das eleições... - «sondagem» pelos vistos só do seu conhecimento e, provavelmente, feita num universo de inquiridos composto pelos seus amigos mais chegados (admitindo que os tem)...


Estou em crer que a grande falha da cavacal operação foi ter começado demasiado tarde e, por isso, não ter dado o tempo suficiente aos propagandistas de serviço para levarem à prática, com êxito, a manobra em que são peritos de, a partir de uma opinião muitas vezes publicada, fabricarem a desejada opinião pública...


Recorde-se, entretanto, que esta ideia da simultaneidade das eleições não é ideia nova. Já foi falada noutras alturas - e, por sinal, sempre por más razões e com maus objectivos, o que não surpreende na medida em que misturar várias eleições num mesmo acto eleitoral é uma excelente forma de baralhar para reinar - matéria na qual os executantes da política de direita são verdadeiros especialistas.


E já agora, vale a pena lembrar (quanto mais não seja a título de curiosidade e também para que não caia no esquecimento...) que a simultaneidade de eleições era um dos caminhos escolhidos pelos golpistas do 11 de Março de 1975 - o tal golpe organizado por Spínola e cuja preparação o PS/Mário Soares acompanhava a par e passo através dos encontros de Manuel Alegre e outros homens de mão de Soares com os golpistas.
Relembremos, então, ainda que resumidamente, os planos dos golpistas:
concretizado o golpe - depois de presos e colocados em «unidades seguras» os «elementos pró-comunistas do Conselho dos Vinte» - Spínola assumiria o poder, proclamaria o estado de sítio "até ao pleno funcionamente das instituições", suspenderia as liberdades democráticas, adiaria as eleições para a Assembleia Constituinte marcadas para Abril e anunciaria eleições para Novembro.
Nessas eleições, os portugueses elegeriam, simultaneamente, o Presidente da República e os deputados para a Assembleia. Mas não só: a simultaneidade englobava ainda, o Programa do Governo e a Constituição!!! - ou seja: matavam todos os coelhos com uma só cajadada...


Mas voltando ao dia de ontem: o Presidente da República marcou as eleições legislativas para uma data não coincidente com a das autárquicas.
Não tendo possibilidade de fazer o que queria, teve que fzer o que não queria.
Por isso - e só por isso... - fez bem.

5 comentários:

Ana Camarra disse...

Só por isso....

beijo

Maria disse...

A amiga dele também queria "suspender a democracia por seis meses"... que raio de família mais parecida...

Um beijo grande

samuel disse...

Embora seja a sua cara habitual, ainda deve estar mais com aquele ar de cólica intestinal...

Abraço

Antonio Lains Galamba disse...

lá acertou uma! mesmo que tenha tentado atirar ao lado...

abraço

Antuã disse...

Foi bom lembrar essa do Manuel Alegre.