PARA ALÉM DA NÁUSEA

Não pára, a publicação de livros da autoria de reputados historiadores que, quais prestidigitadores, tiram triunfantemente da manga (ou da cartola) a conclusão de que em Portugal não existiu fascismo.

Confesso que me cansei de os ler. Em primeiro lugar porque, citando-se uns aos outros, dizem todos o mesmo e, por isso, chateiam que se fartam. Em segundo lugar, porque a operação de branqueamento do fascismo que de há uns anos a esta parte tem vindo a invadir livrarias, médias, escolas, etc, cheira que tresanda a promoção do fascismo.

Agora, foi dado à luz mais um desses livros: «Estados novos Estado Novo», de Luís Reis Torgal.
Deu notícia dele, há dias, no Jornal de Letras, um «mestrando em História Contemporânea na Faculdade de Letras de Lisboa», que sintetiza aspectos vários do pensamento do autor, designadamente em matéria de comparação do fascismo português (isto digo eu, é claro...) com o fascismo italiano.
O autor, muito embora reconhecendo a existência de algumas «semelhanças (do salazarismo) com o fascismo italiano», salienta as diferenças, essas, sim, ao que parece, significativas.
E quais eram essas diferenças?
Ele explica: «Salazar não era um chefe de partido como Mussolini, mas alguém que sabia conciliar diversas opiniões (a própria União Nacional era entendida como um "instituição Nacional" e não como um partido» - confesso-me estupefacto e deslumbrado com esta imagem do Salazar conciliador de opiniões diversas...
Outro exemplo apresentado para ilustrar as tais «diferenças»: enquanto no fascismo italiano imperava o princípio de «autoridade sem liberdade», em Portugal, Salazar defendia o princípio de "autoridade e liberdade» - coitados dos italianos do tempo do Mussolini e felizes dos portugueses do tempo de Salazar...

Assim fica mais uma vez demonstrado que em Portugal não existiu fascismo - com a promessa de que a demonstração vai prosseguir para além da náusea.

12 comentários:

samuel disse...

Acho que estás a ser severo com o senhor. Pelo menos nessa imbecilidade, perdão, opinião sobre o Salazar, o homem tem razão. Salazar conciliava opiniões...
1. Deixava viver na tal "liberdade" quem não demonstrasse opinião nenhuma.
2. Juntava à sua volta quem pensasse, ou pelo menos dissesse que pensava como ele.
3. Juntava nas prisões quem pensasse contra ele.
Pronto... é uma maneira de "conciliar"... vá lá... juntar.

Abraço

Nelson Ricardo disse...

Lentamente está-se a criar um espírito de tempo em que o Comunismo volta a ser o mal mais temido - desta vez sem a URSS, pasme-se - e em que as ditaduras foram "de facto" dita brandas. Eles que venham, os comunistas não recuam um centímetro que seja na luta contra a opressão.

Maria disse...

"Confesso que me cansei de os ler."
O que eu gostei de ler esta frase...
Sobre estes 'historiadores' que provavelmente não viveram na época provam ainda que não sabem nada da História recente do nosso país. E pelos vistos de outros países, também...
Havia liberdade? Pois havia. Mas SÓ PARA ELES! Liberdade de prenderem quem lutava contra o fascismo, ora bolas!

Um beijo grande

Antuã disse...

Havia toda a liberdade para a PIDE.

Op! disse...

"Uma mentira dita várias vezes torna-se verdade"

Serão estes livros a derradeira arma do branqueamento do fascismo?

Será isto uma moda passageira?

Quem são esses "histuriadores"? haverá alguma ligação entre eles? será que estudaram todos (mesmo que apenas parte dos seus estudos) no mesmo lugar?

Existe actualmente uma maquina propagandista dentro do sector intelectual ou estou a imaginar coisas?

filipe disse...

Este processo de branqueamento do fascismo português nos meios académicos não é novo, mesmo em faculdades reputadas, como é exemplo - há anos - o que vem sendo lecionado em Letras da Clássica de Lisboa, fruto da Santa Aliança do Centrão, estabelecida entre docentes PS's e PSD's. Os orgãos da comunicação "social", cumprindo a vontade dos seus donos, somente chamam para a actualidade os escritos destes mestrandos e doutorandos "da cor", quando o consideram apropriado. Ou seja, branquear o fascismo é um meio para sancionar as práticas neofascistas do actual poder político.
Mas estes, tal como os seus antecessores, também não passarão!
Um abraço.

João Casanova disse...

Este artigo faz-me recordar, as várias vezes que fui expulso das aulas de História, no meu singelo 9º ano de escolaridade.

Que raio...a senhora professora insista em avaliar à sua maneira (e chumbar-me) a Revolução de Outubro. Bem como, em não se discutir (leccionar) o 25 de Abril de 1974, mas ao invés, vangloriar o "maravilhoso" 25 de Novembro de 1975.

É impossível branquear o 25 de Abril, pois nele, reside o branco e o vermelho dos seus cravos.

Um Abraço

Sílvia disse...

Estes trabalhos académicos que deveriam pressupor rigor, seriedade e honestidade, acabam, muitos deles, por não passar de umas quantas palavras imbecis, demagogas e... sim, muito nauseantes!
beijo,
Sílvia MV

Ana Camarra disse...

Salazar de facto conciliava várias opiniões....desde que fossem todas iguais à dele!

beijos

Aristides disse...

Ainda me lembro de como António José Saraiva ( o da História da Literatura Portuguesa, em parceria com o grande Óscar Lopes) passou a defender, a partir de certo momento, que o fascismo em Portugal nunca existiu. Parece que era uma quesão de senilidade e/ou sanidade intelectual.
Ainda me lembro, com um sorriso, de cada vez que Mário Castrim utilizava a palavra "fascismo" acrescentava sempre um irónico "desculpa lá, ó Saraiva!"
Que saudades! Do Castrim, claro...
Grande abraço

Antonio Lains Galamba disse...

eles apoiam-se... lavam-se, branqueiam-se, vangloriam-se, lisonjeiam-se... e sabem muito bem porquê e com que fim....

abraço

Fernando Samuel disse...

samuel: é que se chama «conciliar em liberdade»...
Um abraço.

Nelson Ricardo: é que eles sabem que, afinal, o comunismo não morreu.
Um abraço.

Maria: Não vale a pena perder tempo com eles: dizem todos e sempre o mesmo, ler um é ler todos.
Um beijo grande.

Antuã: ...para a Legião, para a MP, etc, etc.
Um abraço.

Membro do Povo: há uma fortíssima ofensiva ideológica que tem como alvo principal o ideal comunista...
Um abraço.

filipe: a ofensiva de branqueamento do fascismo insere-se na ofensiva ideológica do sistema dominante.
Um abraço.

João Casanova: o que eles fazem é «escurecer» o 25 de Abril.
Um abraço.

Silvia MV: o problema é que tudo isso é aceite e dado como história...
Um beijo.

Ana Camarra: era uma espécie de... democrata...
Um abraço.

Aristides: lembras bem: saudades do Castrim!
Um abraço.

Antonio Lains Galamba: ó se sabem!...
Um abraço.