A FARSA CONTINUA

Desculpem a insistência, mas é minha opinião que nunca é demais denunciar o papel desempenhado pelos média dominantes na desinformação organizada ao serviço dos interesses do grande capital.

Ontem, deixei aqui alguns exemplos da farsa informativa em torno das eleições iranianas.
Hoje, é necessário dizer que a farsa continua - e que, pela forma como está a decorrer, é bem possível que estejamos perante uma daquelas operações em que o imperialismo norte-americano e os seus vassalos são especialistas.
Senão, vejamos:
Numa primeira fase, os média espalharam a ideia de que Ahmadinejad ia ser derrotado. A ideia era fundamentada nos resultados de vária sondagens - e, certamente, no facto de Obama, numa atitude de inédito desaforo, ter feito apelo público ao voto na «mudança», isto é contra Ahmadinejad...

Contados os votos, e sendo clara a vitória de Ahmadinejad, os média espalharam a ideia de que as eleições foram (ou talvez tivessem sido...) fraudulentas - pelo que era mais do que legítimo contestá-las recorrendo a todos os métodos possíveis.

E lá surgiram, no momento próprio, os contestários: 2000 no cumprimento da democrática tarefa de «incendiar automóveis, autocarros e pneus; de gritar «morte ao ditador!» e de atirar pedras aos polícias». 2000: a «multidão» que, segundo os média, enchia as ruas de Teerão», num poderoso «levantamento popular»... - «brutalmente reprimidos à bastonada e com gases lacrimogénios» e impedidos, assim, de concretizar a tal democrática e incendiária tarefa...

E lá surgiram os iranianos professores em universidades dos EUA, entrevistados pelos média para dizerem coisas do género: «nunca duvidei de que Ahmadinejad venceria, mas não esperava uma tão avassaladora maioria», por isso - porque «não esperava»... - «este universo de eleitores só pode ter sido conseguido com fraude»...

E lá surgiram os inevitáveis chefes de Estado do costume, todos repetindo as «preocupações» do governo dos EUA em relação à «repressão» - «preocupações» que atormentam o vice-presidente Joe Biden, pobre do homem, que nem dorme a pensar «na forma como eles reprimem a liberdade de expressão, no modo como reprimem a multidão, na maneira como as pessoas são tratadas»...

E aí estão todos - governo dos EUA, chefes dos Estados vassalos, professores em universidades dos EUA... - a repetir, a repetir, a repetir, para que os média difundam que:
Teerão é, «até agora», a única cidade em que os contestários sairam às ruas...

Este «até agora», expressa um claro sentimento de frustração (de quem contava com contestatários em todas as cidades...) e uma esperança em que os contestários prometidos apareçam nas outras cidades....
Assim como quem diz, irritado: se tudo estava programado para que a contestação fosse generalizada e massiva, de forma a que a «mudança» acontecesse - como o Presidente Obama desejava - por que raio é que aparecem estes dois mil e em Teerão?...

Aguardemos para ver se a contestação generalizada e massiva acontece...
Ou - o que, bem vistas as coisas, é o mesmo - se o «mundo» responde ao lancinante apelo de Reza Pahlavi, filho do último Xá e exilado nos EUA: «Já é tempo de os meus compatriotas serem apoiados mundialmente no seu combate pela liberdade, pelos direitos humanos e pela democracia»....

10 comentários:

Ana Camarra disse...

Não peças desculpa, insiste!
Uma vergonha o papel dos jornalistas!
È o chamado papel de embrulho ou então papel higiénico!

beijos

Antuã disse...

Eles só aceitam eleições se tiverem o resultado que querem. Todo o resto não é válido. E querem dar lições a quem?!...

samuel disse...

São tão ostensivos na arrogância e na manipulação, que nem é preciso ser simpatizante de Ahmadinejad, para considerar isto uma grande pouca vergonha... como é o meu caso.

Abraço.

Anónimo disse...

E na Moldávia lá se vão repetir as eleições...

Acham que vão voltar a ganhar os comunistas? Ou a marosca já estará preparada?

Maria disse...

Eu vinha comentar-te aqui. Hesitei, e agora estou um pouco agoniada...
Quando é que "isto" passa?

Santa paciência!

Um beijo grande

Aristides disse...

Hoje já multiplicaram os manifestantes e parece que já são milhões. Uma coisa que me intriga é que, até ao dia das eleições os jornalistas fartaram-se de repetir que não havia sondagens (coitados dos iranianos), tal como acontece nas nossas democracias, mas depois da vitória de Ahmadinejad, enchem-nos os ouvidos com as sondagens que afinal até existiam. Afinal, em que ficamos.
Também não percebo a perplexidade dos nossos comentadores pelo facto de as sondagens ( a terem existido) não terem acertado nas previsões. Já tem acontecido...

Anónimo disse...

Bom post Fernando Samuel! Caro Aristides existiam sondagens e davam como certo o apoio, e a vitória a Ahmadinejad. "A poll of Iran's electorate three weeks before its election showed President Mahmoud Ahmadinejad leading by a 2-to-1 ratio, greater than the announced results of the contested vote, the pollsters said on Monday" ler aqui

Nelson Ricardo disse...

Apesar de todas as nações e homens que combatem o imperialismo devam ser celebrados, não devemos antes procurar na sociedade iraniana quem lute pelo socialismo e pelo comunismo?

O Irão tem na última década passado por uma série de privatizações que em muito lesaram o povo, causando enormes desigualdades. Ahmadinejad, quando se candidatou pela primeira vez prometeu abater essas desigualdades levando o dinheiro do petróleo para a mesa das pessoas, mas à mínima acção contra o Capital Monopolista que controla o Irão, a destituição de um administrador de um banco, Ahmadinejad falhou e não tentou mais ir avante.

Pessoalmente, não tenho preferências por nenhum dos candidatos, embora já canse ver um candidato ser tão empolado por este ser o campeão da Ocidentalidade naquele país. Haja paciência.

Só me resta dizer, a seu tempo o Comunismo libertará o povo iraniano.

GR disse...

No tempo do Xá o que fizeram a Mossadegh?
Os Aiatolas receberam ajuda de quem?
O anticomunismo americano vem de longe.
Este novo fantoche imperialista – Obama é, um sonso.
Gostava de saber o que aconteceria nos EUA, se fizessem uma manifestação contra o governo assassino de Obama,queimassem contentores do lixo e carros.
Por acaso até sei! Não haveria manifestação, mas muitos presos políticos a juntar a tantos outros que ninguém sabe quantos são.
Não suporto os americanos!
Fernando Samuel, continua a esclarecer-nos, bem precisamos.

GR

Fernando Samuel disse...

Ana Camarra: uma vergonha!
Um beijo.

Antuã: eles são mestres em todas estas tramóias.
Um abraço.

samuel: essa é que é a questão.
Um abraço.

Anónimo: a técnica é velha: repetir as eleições tantas vezes quantas as necessárias para eles ganharem...
Um abraço.

Maria: este gente só agonia...
Um beijo grande.

aristides: os manifestantes chegaram um pouco atrasados... é espantosa a colagem desta cambada toda ao discurso do Império.
Um abraço.

aldeiavermelha: lá irei. Obrigado.
Um abraço.

ComRevDe: eu refiro-me apenas à forma vergonhosa como os média estão a «tratar» o caso puxando a sardinha á brasa do imperialismo norte-americano....
Um abraço.

GR: não digas isso: os EUA são «a pátria da democracia»...
Um beijo.