POEMA

RUAS DESERTAS


IX


(E o vento trouxe este coro de presos do Aljube)


«Ouve, Noite:
só nós, os que não acreditamos no céu,
tivemos a coragem de gritar a esta carcaça a fingir de vida: NÃO!

Nós, sem morte nem mundo,
para aqui a apodrecer nas tumbas do sol secreto
e a sonhar com um céu para os outros na Terra
que só o ódio vê.

E é esta a nossa guerra.
E é esta a nossa fé.»


José Gomes Ferreira

6 comentários:

samuel disse...

Guerra para ganhar, fé inabalável!

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

José Gomes Ferreira é que sabia. É preciso deixar de acreditar no céu e olhar para a Terra.

Um beijo.

Maria disse...

E é este o nosso sonho!

Um beijo grande.

Mário disse...

tecer considerações sobre a obra do José Gomes Ferreira não é fácil mas o que é realmente dificil é colocar um adjetivo que resuma como reduz em poucas frases a dimensão do seu pensamento, claro, vir para aqui escrever sem mesura, sem grandes habilidades de síntese... No entanto, corroi constatar que aos Portugueses, à excepção deste e de outros poucos espaços onde (procurando e às vezes por casualidade, ou causalidade) podemos encontrar este tipo de autores, ainda se lhes furte a possibilidade de contraste ou de conhecimento com e deste tipo de reflexão.

Abraço

Justine disse...

O Poeta é também um sábio!

Fernando Samuel disse...

samuel: nem mais.
Um abraço.

Graciete Rietsch: e com que frequência ele nos diz isso...
Um beijo.

Maria: dito de outra maneira, sim...
Um beijo grande.

Mário: é próprio dos tempos que vivemos este silenciamento sistemático do pensamento...
Um abraço.

Justine: sem dúvida.
Um beijo.