POEMA

O NOVO MANDAMENTO


Está criado
o novo mandamento. Aos pássaros
dirás: não cantareis; às flores:
não florireis. E florirão
as bombas. E morrerão
as pombas. E ao sangue
dirás: rio
serás. E sobre
os escombros erguerás
o homem novo, o seu cadáver, desenharás
a ferro e fogo o mapa
do luto e das lágrimas. E imporás,
enfim,
a liberdade. A liberdade
do terror e das armas. A liberdade
para matar.


Albano Martins

6 comentários:

Maria disse...

Arrepiante! Mas lindíssimo...

Um beijo grande

samuel disse...

Felizmente, há os que não se conformam e não abdicam da liberdade de os denunciar. Até ao fim dos seus dias.

Anónimo disse...

É de estarrecer. O poeta, com a sua lucidez e poder de síntese, fez um poema muito duro mas, infelizmente, real.
Porque o negócio das armas é o mais
lucrativo de todos e, para eles, os homens não passam de "cadáveres adiados que procriam". Mas esquecem-se de uma coisa, ESTAMOS VIVOS e sabemos lutar.

Campaniça

vovó disse...

"mas um dia chegará
em que a bomba rebentará nas suas mãos
e a guerra, terminará!"

beijocasss

Ana Camarra disse...

E ainda assim existem sempre passaros rebeldes a cantar e flores alucinadas a florir, teimosos....
Mesmo quando nos tentam impigir tais mandamentos.

beijos

Fernando Samuel disse...

Maria: foi escrito na altura da invasão do Iraque...
Um beijo grande.

samuel: e aí está (parte da) nossa força.
Um abraço.

campaniça: sabemos lutar, lutamos e venceremos.
Um beijo.

vovó: e é que chegará mesmo... embora não tão depressa como seria necessário...
Um beijo.

Ana Camarra: há sempre quem lute e rejeite os «mandamentos»
Um beijo.