POEMA

COBARDIA


E não diz a palavra!
Já não consegue a pura claridade
da raiva que se exprime
num grito que trespassa o firmamento!
Parafraseia a dor, como um pinheiro
que tem medo do vento
e se torce na duna, horizontal, rasteiro,
a enrodilhar a voz do sofrimento.

Filho do instinto,
perdeu a força heróica de arrancar
o aço do punhal que o atravessa.
Morre por não ter pressa
de se salvar!


Miguel Torga

6 comentários:

Ana Camarra disse...

Os cobardes são assim!

samuel disse...

Quanto mais se enrodilharia o cobarde, se tivesse a improvável coragem de ler estes versos?

Justine disse...

Que retrato implacável!

Fernando Samuel disse...

Ana Camarra: está-lhes no sangue...
Um beijo.

samuel: improvável, dizes bem; mais do que improvável...
Um abraço.

Justine: ... e rigoroso!
Um beijo.

Maria disse...

Não serei original, mas é um belo retrato!

Um beijo grande

Fernando Samuel disse...

Maria: até parece «real»...
Um beijo grande.