POEMA

(Um jovem comunista, recém-saído da cadeia,
procurou-me para me dizer: «vou para Espanha
bater-me ao lado dos republicanos».)


Adeus!

Tu que arrancaste da treva dos dias e das noites
o sol subterrâneo das flores ocultas nas raízes.
Tu que nunca viste o luar completar os olhos das mulheres
- e a tua mãe só te beijava em fotografia.

Tu que vais morrer pelos outros com vinte anos de desdém ardente
e o futuro nunca saberá o teu nome para maior glória.
Tu que vais conhecer finalmente a verdadeira morte: a nossa.
Não a vida covarde atirada para as nuvens,
mas sombra sem frestas,
frio sem portas...

Tu: adeus!

Morre orgulhosamente
o teu destino de relâmpago
que afoga nos abismos
o eco longo
do silêncio das águias.


José Gomes Ferreira

3 comentários:

samuel disse...

E valeu apena... por muito que não pareça.

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Verdadeiro hino ao combatente anónimo que morre por uma causa universal.

Um beijo.

Fernando Samuel disse...

samuel: ó se valeu!
Um abraço.

Graciete Rietsch: é isso mesmo.
Um beijo.