Prosseguindo a revisão da matéria dada:
«Em Portugal, o 1º de Maio foi assinalado pela primeira vez logo em 1890, em Lisboa e no Porto; no ano seguinte, nas mesmas cidades, são já milhares os trabalhadores que se manifestam e exigem as oito horas de trabalho; em 1892, as comemorações estendem-se a várias outras localidades e, com o desenvolvimento do movimento sindical nos últimos anos da Monarquia e na sequência da implantação da República, assumiu dimensão e conteúdo superiores. Em 1919, fruto de importantes lutas da classe operária e dos trabalhadores, a jornada das oito horas foi conquistada e consagrada na lei para os trabalhadores da indústria e do comércio.
Durante a ditadura fascista, cuja primeira preocupação foi a abolição das liberdades, aí incluídas a liberdade sindical, o direito de greve e de manifestação - tudo complementado com a criação de um forte aparelho repressivo - as comemorações do Dia do Trabalhador, por vezes expressas apenas em actos simbólicos, constituíram verdadeiras acções de resistência e foram sempre objecto de brutal repressão.
Das comemorações nesses quase cinquenta anos de fascismo, emerge o 1º de Maio de 1962 - que assume expressão e dimensão históricas e evidencia de forma inequívoca o papel decisivo da classe operária na luta antifascista.
1oo mil pessoas em Lisboa; 20 mil no Porto; 5 000 em Setúbal; dezenas de milhares noutras cidades e de forma massiva no Sul, vieram para a rua, enfrentaram heroicamente as brutais cargas da polícia e, em Lisboa, responderam à violência policial "atirando pedras arrancadas do pavimento, empunhando postes de sinalização igualmente arrancados, dispersando num lado para se reagrupar noutro, ocupando as ruas durante longas horas".
A repressão foi brutal: rajadas de metralhadora fizeram dezenas de feridos e tiraram a vida ao jovem operário Estêvão Giro.
Tratou-se de uma grande jornada de luta, só possível, na dimensão e na expressão que assumiu, graças a um aturado trabalho preparatório, com a criação de comissões que promoviam reuniões alargadas, elaboravam e distribuíam cartazes e manifestos, faziam inscrições nas paredes, enfim, mobilizavam os trabalhadores e organizavam a direcção da jornada de luta.
Sempre sob a vigilância das forças repressivas que, numa dessas acções preparatórias, em 28 de Abril, em Aljustrel, assassinaram os mineiros António Adângio e Francisco Madeira.
Esse trabalho preparatório foi decisivo não apenas para o êxito da jornada do 1º de Maio, mas também para as impressionantes lutas através das quais o proletariado agrícola, em poderosas movimentações que envolveram 200 mil trabalhadores, obteve, no decorrer desse Maio de luta, a histórica conquista das oito horas de trabalho para os assalariados agrícolas do Sul.
(...) E tais foram a importância e o significado do 1º de Maio de 1962 que, desde então, o Dia do Trabalhador enquanto tal, passou a ser o dia nacional da resistência antifascista, ocupando assim o lugar até aí ocupado pelo 5 de Outubro, dia da revolução republicana burguesa»
PÁTRIA, LUGAR DE EXÍLIO
(EXCERTOS)
Aqui neste ano de 1962
primeiro de Maio
às três horas da tarde
(...)
Aqui às três horas da tarde
posso olhar-vos sem medo
e dizer-vos aqui estou
O poeta é um operário
(Maiakovski)
aprendei depressa a matar-nos
o poeta é o inimigo
(...)
A morte engatilhada
espera o momento de partir Agora
Cumpra-se o ritual
Uma voz grita Viva
a Liberdade e coro lhe responde
pontuado de tiros
Canalhas Temos fome
arranquemos as pedras da calçada
Ó meu amor resiste!
(...)
De mãos dadas cantando
abrimos flores às balas assassinas
merecemos a vida
(...)
Neste ano de 1962
primeiro de Maio
ao começo da noite
podemos finalmente olhar no espelho a nossa muda imagem
sem temor nem vergonha
(...)
Neste primeiro de Maio de 1962
podemos finalmente sorrir sem amargura
Daniel Filipe
6 comentários:
Não conhecia este percurso da história da Resistência.
Não foi em vão os Resistentes mineiros assassinados, reforçaram a luta, as futuras Lutas.
Daniel Filipe o poeta do Amor Resistente.
Um Grande 1º de Maio, para ti Fernando Samuel e para todos que por bem comentam esta nossa cassa/blog.
BJS
GR
Grande Amigo,
deixei-te abraços em comentários, feliz pelo teu "regresso" a estas lides (porque noutras viu-se que não largaste a "pena"). Perderam-se entre Amsterdão e Lisboa.
De regresso da curta saída, aqui estou, e este teu "post", para além da habitual oportunidade e pontaria, obrigou-me a alterar os meus programas... por causa dos extractos do Daniel Filipe.
Como sabe bem ouir-te dizer:
Um abração
Quando teremos outro 1º de mMaio digno desse outro de 1962?
Hoje havia muita gente, mas em 1962havia luta e repressão!!
Porque não acordam as pessoas?
Estive no Porto, na Manifestação que foi grande, mas senti-me um pouco triste, porque acho que a situação política exigia muito mais.
Um beijogrande.
Os tempos de hoje , tal como antes, demandam que se resista, que se lute tremendamente para que as conquistas feitas não retrocedam e as que ainda faltam alcançar se econcretizem.
Entristece-me o conformismo generalizado, enquanto estas plíticas esmagam crescentemente a dignidade dos trabalhadores. :(
Um beijo!
Em Aveiro, apesar da chuva reaccionária e pesada, os trabalhadores saíram à rua.
GR: e foi um grande 1º de Maio - e a luta continua.
Um beijo.
do zambujal, meu grande amigo: e eu bem sabia o que o Daniel Filipe iria provocar em ti...
Abraço grande.
Graciete Rietsch: lutar, lutar sempre - para atrair à luta os que ainda estão afastados dela...
Um beijo.
svasconcelos: vivemos, de facto, um tempo de resistência, com tudo o que isso implica. Mas... cá estamos!
Um beijo.
Antuã: «Nada poderá vencer-nos/nada poderá deter-nos»...
Um abraço, camarada.
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