POEMA

A QUEIMA DOS LIVROS


Quando o Regime ordenou que queimassem em público
os livros de saber nocivo, e por toda a parte,
os bois foram forçados a puxar carroças
carregadas de livros para a fogueira, um poeta
expulso, um dos melhores, ao estudar a lista
dos queimados, descobriu, horrorizado, que os seus
livros tinham sido esquecidos.
Correu para a secretária
alado de cólera e escreveu uma carta aos do Poder.

Queimai-me!, escreveu com pena veloz, Queimai-me!
Não me façais isso! Não me deixeis de fora! Não disse eu
sempre a verdade nos meus livros? E agora
tratais-me como um mentiroso!
Ordeno-vos: Queimai-me!


Bertolt Brecht
(por ocasião da queima de livros, em Berlim, em Maio de 1933)

4 comentários:

Anónimo disse...

Foram capazes de queimar livros, sem entender o que faziam.
É um dia para não esquecer.

(Jorge)

Graciete Rietsch disse...

Este poema é uma homenagem muito forte à honestidade e à coerência.

Um beijo.

GR disse...

Belíssimo e sentido poema.
Sentimos a dor do poeta, vemo-lo de cabeça levantada, voz grave e lágrimas de raiva.
Não podemos nunca esquecer a Noite de Cristal!

BJS,

GR

Fernando Samuel disse...

jorge: e que o Brecht soube captar...
Um abraço.

Graciete Rietsch: sem dúvida!
Um beijo.

GR: para que... fascismo, nunca mais!
Um beijo.