POEMA

NEM SEMPRE A MESMA RIMA


Bem couraçado na pele
não sou eu mas aparência
e se me rasgo e me mostro
nem assim sou evidência

Porque os acertos em mim
são cartas de paciência
baralho caído ao chão
levantado sem prudência

Sobre a mesa verde-negra
corre um jogo de demência
passo corto pego e bato
com um parceiro de ausência

Assim jogava e perdia
que perder é uma ciência
a que a gente se habitua
sem temor nem violência

Agora que o vento arrasta
as cartas e os vícios delas
ficaram-me as mãos libertas
é manhã abro as janelas


José Saramago

3 comentários:

samuel disse...

A luz clara e deslumbrante da manhã não é propícia a estes jogos... mais calhados para a penumbra e o fumo espesso.

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

E as manhãs de Sol chegarão e o SOL brilhará de facto para todos nós.

Um beijo.

Fernando Samuel disse...

samuel: não há como a manhã para afastar as sombras...
Um abraço.

Graciete Rietsch: «avante! camarada, avante!«...
Um beijo.