POEMA

CAVALARIA


Cheguei esporas ao cavalo
e os sentimentos exaustos
deram saltos no regalo
das gualdrapas e dos faustos

A relva cheirava a palha
desmanchei rosas vermelhas
mas pasto foi maravalha
sabia ao sarro das selhas

Porque o cavalo era eu
o cansaço e as esporas
tudo eu e a cor do céu
mais o sonho das amoras

Relinchos eram os versos
com jeito de ferradura
que fazia por dar sorte
mas tantos foram reversos
que o ventre de serradura
deu o estoiro e deu a morte

Cai a montada no chão
cai por terra o cavaleiro
que era eu (como se viu)
da escola de equitação
vim ao saber verdadeiro
das transparências do rio

Agora dentro do barco
nos remos brancas grinaldas
tenho os teus braços em arco
como um colar de esmeraldas


José Saramago

3 comentários:

samuel disse...

Por alguma coisa tanto se canta "o repouso do guerreiro".
Quase sempre assim... entre uns braços...

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Mesmo depois dos desaires algo acabará por compensar. O amor? A sensação de dever cumprido?
Mas o amor também deve ajudar a ultrapassar os maus momentos, ajudando a não desistir da luta.
E não desistir é o mais importante.
Não é bem uma interpretação do poema. É mais uma opinião minha.

Um beijo.

Fernando Samuel disse...

samuel: mais ainda quando o guerreiro é... cavalo e cavaleiro...
Um abraço.

Graciete Rietsch: uma opinião tua que, contudo, interpreta o poema...
Um beijo.