POEMA

DISPOSTOS EM CRUZ...


Dispostos em cruz desfeitos em cruz
em cada caminho três portas fechadas
um vento de faca um resto de luz
o espanto da morte nas águas cortadas

Um corpo estendido um ramo de frutos
um travo na boca da boca do outro
o branco dos olhos o negro dos lutos
o grito o relincho e o dente do potro

As feridas do vento as portas abertas
os cantos da boda no ventre macio
as notas do canto nas linhas incertas
e o lago do sangue ao largo do rio

O céu descoberto da nuvem da chuva
e o grande arco-íris na gota de esperma
o espelho e a espada o dedo e a luva
e a rosa florida na borda na berma

E a luz que se expande no pino do Verão
e o corpo encontrado no corpo disperso
e a força do punho na palma da mão
e o espanto da vida na forma do verso


José Saramago

3 comentários:

samuel disse...

Quando se bate com o "punho na palma da mão" DESTA maneira... algo de muito bom aconteceu... ou vai acontecer!

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Vamos continuar a usar"a força do punho na palma da mão", para podermos apreciar "o espanto da vida" em tempo real.

Um beijo

Mário Pinto disse...

Cantado