POEMA

JOGO DO LENÇO


Trago no bolso do peito
um lenço de seda fina,
dobrado de certo jeito.
Não sei quem tanto lhe ensina
que quanto faz é bem feito.

Acena nas despedidas,
quando a voz já lá não chega
por distâncias desmedidas.
Depois, no bolso aconchega
as saudades permitidas.

Também o suor salgado,
às vezes, enxuto a medo,
que o lenço é mal empregado.
E quando me feri um dedo,
com ele o trouxe ligado.

Nunca mais chegava ao fim
se as graças todas dissesse
deste meu lenço e de mim,
mas uma coisa acontece
de que não sei porque sim:

Quando os meus olhos molhados
pedem auxílio do lenço,
são pedidos escusados.
E é bem por isso que penso
que os meus olhos, se molhados,
só se enxugam no teu lenço.


José Saramago

6 comentários:

Bolota disse...

Só se enxugam no teu lenço.
As lágrimas do meu amar
Polvilhadas em incenso
Benzidas com ar de mar

Graciete Rietsch disse...

Belo poema de amor!!!!!

Um beijo.

samuel disse...

O "lenço" dos outros parece sempre mais acolhedor...

Abraço.

Justine disse...

Uma brincadeira muito bem feita!

Maria disse...

Tão bonito...

Um beijo grande.

Fernando Samuel disse...

Bolota: gosto.
Um abraço.

Graciete Rietsch: e com alguma ironia...
Um beijo.

samuel: é reconfortante...
Um abraço.

Justine: e com aquele sorriso subentendido...
Um beijo.

Maria: é, não é?...
Um beijo grande.