POEMA

COMBOIO


II


(A PIDE prendeu o meu filho, no Porto.)


A voz do telefone riu para tornar o mundo mais triste:
«O teu filho está preso.»

E riu.

Rimos
com lágrimas de dentes de esqueleto.

As outras ficaram
para a luz líquida das noites
dos olhos sepultos
(e oxalá ninguém as ouça chorar
aqui debaixo deste cobertor de lã...)

Lágrimas
-aquecimento secreto
à espera do rumor moribundo da manhã.


José Gomes Ferreira

8 comentários:

samuel disse...

...mas veio Abril...

Abraço.

Maria disse...

Não tenho palavras para deixar aqui.
Deve ser uma dor que nenhum cobertor de lã abafa.

Um beijo grande.

duarte disse...

...............
essas manhãs devem ser gélidas
...............
abraço

GR disse...

Tanta dor!
Lutemos por Abril. Sempre!

Bjs,

GR

svasconcelos disse...

Este poema dói...
beijo,

Fernando Samuel disse...

samuel: quase vinte anos depois, mas veio...
Um abraço.

Maria; tantas foram as lágrimas choradas assim...
Um beijo grande.

duarte: horríveis.
Um abraço.

GR: para que «fascismo nunca mais».
Um abraço.

smvasconcelos: apesar da distância...
Um beijo.

Graciete Rietsch disse...

Vou repetir o que já alguns comentadores disseram, mas foi o que de imediato me surgiu ao ler o poema.
Mas dessas lágrimas nasceu ABRIL.

Um beijo.

Fernando Samuel disse...

Graciete Rietsch: haá coisas que devem ser muito repetidas.
Um beijo.