POEMA

COMBOIO


XXIX


(Hora da visita. A Srª Ermelinda, que vela pelo meu filho, também estava à entrada com a cestinha onde ia aquela sopa tão boa que fervia desde as seis da manhã.)


Entretanto cá fora
as mães aquecem com os dedos
as merendas nos cestos.

Outras sorriem
com inquietação de cilada.

São as que esconderam limas de sonho no pão
para os filhos cortarem as grades
e fugirem esta noite
pelos lençóis
da solidão rasgada.


José Gomes Ferreira

4 comentários:

svasconcelos disse...

Comovente, este poema!Terno, lindo, docemente triste...
Um beijo

Graciete Rietsch disse...

Belíssimo, triste, mas também e, como sempre, um poema de luta.

Um beijo.

samuel disse...

E não é que foram exactamente as "limas de sonho" que mais grades destruiram?!

Abraço.

GR disse...

Lindíssimo poema, cheio de esperança e solidariedade da parte da Mulher/Mãe, Mulher também ela resistente!

Bjs,

GR