EM NOME DA DEMOCRACIA...

A poderosa operação de branqueamento do fascismo, levada a cabo pelos estoriadores do sistema e amplamente difundida pelos média dominantes, tem vindo a ser complementada, nos últimos tempos, por uma vaga de referências a Salazar - referências simpáticas, cheias de simpática compreensão e, até, de simpática admiração.
Sucedem-se os artigos sobre a vida privada e pública do ditador, as biografias do ditador, as entrevistas aos biógrafos do ditador - numa cadência que, a prosseguir, conduzirá a uma presença mediática do biografado tão frequente (e não menos elogiativa) como nos tempos em que ele era ditador...

Como é sabido, todos os autores destes extensos textos e destas extensas biografias, desconhecem a palavra fascismo, ou a expressão regime fascista.
O que se compreende se tivermos em conta que, para eles, em Portugal o fascismo não existiu, existiu. sim, aquilo que o próprio Salazar designou por «Estado Novo» - designação produzida pelo ditador enquanto promulgava, inspirado pela Carta del Lavoro da Itália fascista, o Estatuto do Trabalho Nacional; ou enquanto criava, instruído pela Alemanha nazi, o Campo de Concentração do Tarrafal; ou enquanto contemplava, enlevado, o retrato de Mussolini exposto destacadamente na sua mesa de trabalho; ou enquanto, cheio de pesar, decretava três dias de luto nacional, com a bandeira portuguesa a meia haste, pela morte de Hitler...

Agora, parece que tudo se encaminha para que os admiradores e os saudosistas do ditador dêem um passo em frente na expressão dessa admiração e dessa saudade.
Há dias, o Cantigueiro referia - e comentava, pertinente - o facto de o ministro Santos Silva ter recorrido a uma lei de Salazar para não cumprir uma lei actual que obriga à aprovação, pelo Tribunal de Contas, de obras de determinado montante - a confirmar a existência iniludível de traços fascizantes na política de direita e contra Abril que PS, PSD e CDS-PP levam a cabo há 34 anos.

Hoje, o Diário de Notícias publica um artigo -assinado por Brandão Ferreira, tenente-coronel na reforma - intitulado «Deve uma democracia aceitar sociedades secretas?»
À pergunta que faz, o articulista, aliás, no seu pleno direito, responde que não.
Atente-se, no entanto, no argumento que utiliza para explicar o seu «não»:
começando por relembrar a lei que, «durante o Estado Novo», obrigava todos os funcionários públicos a assinar uma declaração de repúdio do comunismo (e, acrescento eu, a denunciar à polícia política fascista todos os militantes ou simpatizantes comunistas de que tivessem conhecimento...), Brandão Ferreira observa que essa lei «foi muito criticada antes e depois do 25 de Abril», mas criticada «sem razão».
Porquê?: porque era uma lei boa, obviamente...

E delicado, atencioso e didático, o tenente-coronel reformado, escreve: «Permitam que lhes diga porquê» - e passa a explicar a razão das bondades da lei fascista:
«O PCP defendia uma doutrina totalitária, internacionalista, auto-exclusiva e fundamentalista, que recebia directivas, quando não ordens, do PC da União Soviética. Não era um partido livre nem nacional, mas apenas uma correia de transmissão de terceiros», pelo que, excluir os comunistas era «límpido e razoável».

Salazar o disse, Brandão Ferreira o repetiu décadas depois.
Ambos em nome da democracia...

11 comentários:

JN. disse...

Brandão Ferreira foi e é discípulo
do mestre (dele) Salazar. É um saudoso do fascismo e nestes tempos actuais déve estar a querer ser o homem da futura polícia política. Atenção que eles já andam por aqui, vigilância e combate a esta bufaria . Abração.

Graciete Rietsch disse...

Custa mesmo a acreditar mas infelizmente é verdade e infelizmente também é inconcebível que se publiquem coisas dessas num país em que o PCP existe de pleno direito.

Um beijo.

José Rodrigues disse...

Constituição da República Portuguesa Artº46º-4.Não são consentidas associações armadas nem de tipo militar,militarizadas ou paramilitares,nem organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista.Ainda ninguém chamou o sr.Brandão à pedra?Isto tá,bonito tá...

Abraço

Op! disse...

O sr. Brandão ganhou o seu "patriotismo" nas papas miluvit, poderia estar mais atento às cedências ao capital estrangeiro que o actual sistema obriga: deslocalizações de empresas, privatizações dentro do próprio sector empresarial do estado, venda de patentes, negócios fraudulentos com dinheiros públicos que enchem os bolsos dos negociantes e o estado na penúria... e agora este crápula vem tapar o Sol com uma peneira?

Maria disse...

Nem entende a besta que pode destilar o seu anticomunismo e dizer as asneiras como faz porque conquistámos a Liberdade, mas continuo a achar que não pode haver liberdade para quem defende o fascismo e este branqueamento a que vimos assistindo tem de ser travado, para que se faça a História.

Um beijo grande.

samuel disse...

E toda a gente sabe que, desde que estabelecido que se trate mesmo de comunistas... até é aceitável atirá-los pela janela...
Haja pachorra... até um dia!

Abraço.

Zé Canhão disse...

O animal está a precisar da estocada fatal.

svasconcelos disse...

Eu fico chocada com a ignorância destas figuras, mas mais ainda com o saudosismo e revivalismo salazarista.
Curiosamente,esbarrei, nestes dias, com um livro sobre a operação Dulcineia, de Henrique Galvão editado em 1974, e entre outras, anotei esta frase de um antigo colega meu, veterinário, sobre salazar:
"Um inconcebível amontoado de incongruências, tortuosidades e contradições, todas originadas por um estado psicológico nitidamente desiquilibrado, um imoderado amor de poder, e a repressão simultânea de tudo que pidesse impedir a realização dos seus planos".
Na verdade, neste livro discorre-se sobre alguns traços do carácter do ditador e é repugnante relembrá-los...
Um beijo,

Anónimo disse...

De alguém que relativamente à Guerra Colonial diz ” Portugal fez uma guerra justa e, além disso, tinha toda a razão do seu lado”, apenas se pode esperar a manifestação da bronquice.
Apesar desse fulano escrever (escrevinhar) artigos para jornais e revistas e ter livros publicados, a verdade é que nunca conseguiu passar de BURRO. Que outra coisa poderá fazer, senão zurrar???
O que começa a ser excessivamente exagerado, e é muito preocupante, é a visibilidade que se está a dar a estes “mérdicos” que, não fora o 25 Abril, nem se atreviam a abrir a boca.
(Se, por acaso, alguém não souber, BF nasceu em 53… AM… piloto aviador… reserva aos 46 anos “apenas”como Ten. Cor. da Força Aérea, note-se)

Nelson Ricardo disse...

É por isso que é necessário romper o cerco e pôr esta canalha de fora do poder.

Um Abraço!

Fernando Samuel disse...

JN: é bem verdade que eles andam por aí...
Um abraço.

Graciete Rietsch: há gente cheia de saudades do antigamente...
Um beijo.

José Rodrigues: para o sr. Brandão, a constituição que conta é a de 1933...
Um abraço.

Membro do Povo: ele bem sabe o que que...
Um abraço.

Maria: o homem está cheio de saudades do chefe...
Um beijo grande.

samuel: como dizia o Cerejeira, «trata-se apenas de um copmunista sem importância»...
Um abraço.

Zé Canhão: um abraço.

smvasconcelos: o ditador fascista é hoje paresentado por essa canalha como um democrata exemplar...
Um beijo.

Anónimo: obrigado pelos dados biográficos do «melro»...
Um abraço.

Nelson Ricardo: e para isso, a luta é indispensável.
Um abraço.