POEMA

(Visão de Mahler. Improviso durante
a audição na Rádio da Primeira Sinfonia.
Sim, Abelaira: gosto muito do Mahler
- que me soa às vezes como uma espécie
de Schubert trágico.)


Marcha fúnebre
com os vivos todos em caixões
e o cadáver atrás, a pé, sozinho,
ao som da filarmónica
que marca o passo a fingir vida
na poeira morta
do caminho...

Filarmónica transcendente
que afinal
só toca a valsa banal
da morte nua de toda a gente.


José Gomes Ferreira

3 comentários:

samuel disse...

Não há como alindar a coisa. Fúnebre é funebre, mesmo que em filarmónica transcendente... mesmo que em valsa...

Abraço.

Justine disse...

Cada vez admiro mais este JGF! Estas observações de melómano que ele era são deliciosas! E eu até gosto do Malher, também:))

Fernando Samuel disse...

samuel: e a «valsa banal» é... uma geral...
Um abraço.

Justine: da Sinfonia nº2 de Mahler (a da Ressurreição) disse Jorge de Sena: «Ante este ímpeto de sons e de silêncio/Ante tais gritos de furiosa paz/Ante um furor tamanho de existir-se eterno/ Há portas no infinito que resistam?»
Um beijo.