POEMA

OS MENINOS NASCEM


Vós podeis, tiranos, forjar ainda mais sólidas algemas,
chapear de aço as paredes das nossas e vossas cadeias,
e fazê-lo-eis;

Vós podeis, tiranos, cravar mais fundo as vossas baionetas,
esmagar-nos nas ruas debaixo das patas dos vossos cavalos,
e fazê-lo-eis;

Vós podeis, tiranos, roubar, incendiar, fuzilar sem descanso,
vedar os caminhos ainda livres, envenenar as fontes ainda puras,
e fazê-lo-eis;

Vós podeis, tiranos, vir de novo descarregar a vossa cólera
sobre Oradour,
lançar vossa chuva de raios sobre o nosso humano desejo de viver,
e fazê-lo-eis;

Vós podeis, tiranos, inventar ainda piores piores suplícios,
mordaças mais espessas, baixezas mil vezes mais desumanas
para Buchenvald,

inutilmente o fareis:

Esta simples criancinha dormindo em seu berço,
este menino ainda na barriga de sua mãe, olhai
como vos fitam
serenos e terríveis.


Papiniano Carlos

8 comentários:

Ana Camarra disse...

Podem fazer muita coisa, podem, mas lá estarão os olhos acusadores...

beijos

samuel disse...

Por isso é que o medo os cega...

Abraço.

Maria disse...

Este poema é belíssimo. E eu nem tempo tenho para o reler...

Um beijo grande

Op! disse...

Inutilmente o farão, podem-nos tirar tudo: fascisar os sindicatos, apagar os morais, acabar com a livre imprensa, reescrever a História, cessar a contratação colectiva, etilizar o ensino e a saúde, podem mesmo etilizar a justiça... podem até proibir o partido mas em vão almejam parar a nossa causa, unidos venceremos!

Fernando Samuel disse...

Ana Camarra: é o futuro a fitá-los...
Um beijo.

samuel: o medo do inevitável...
Um abraço.

Maria: relê-lo-ás mais tarde...
Um beijo grande.

Membro do Povo: essa é a grande e incontornável verdade!
Um abraço.

Maria disse...

E voltei para reler este poema. Numa pausa inesperada do trabalho.
Que belas papalvras as de Papiano Carlos...
Obrigada.

Um beijo grande

Maria disse...

Quero dizer "que belas palavras"...

Fernando Samuel disse...

Maria: vale bem a pena relê-lo, não é?...

Um beijo grande.