Há seis meses, foram divulgados, na Alemanha, os resultados de uma sondagem realizada na ex-República Democrática Alemã (RDA), na qual se pedia aos inquiridos que comparassem as suas vidas antes e depois da queda do Muro.
A resposta dada por 57% dos inquiridos foi a de que «a antiga RDA tinha mais aspectos positivos do que negativos», sendo que, desses, 8% consideram que «na RDA havia sobretudo aspectos positivos e vivíamos felizes e melhor do que na Alemanha reunificada de hoje» e 49% consideram que «na RDA havia alguns problemas, mas globalmente vivíamos melhor».
Perante isto, o governo alemão viu-se obrigado a vir a público desvalorizar os resultados da sondagem, explicando que eles decorriam do facto de o inquiridos estarem mal informados sobre o que era a RDA - explicação no mínimo estranha, se tivermos em conta que os inquiridos viveram na RDA e vivem, agora, na ex-RDA...
De qualquer forma - e porque vale mais prevenir do que remediar... - o governo alemão decidiu lançar uma «campanha de informação» sobre a «história da RDA» - campanha que tem vindo a ser levada à prática nas escolas, nas ruas, nos média, etc, etc.
E os sinais da «campanha de informação» cedo começaram a surgir: um grupo de «artistas plásticos» começou a ensinar «história da RDA» através de pinturas nas paredes, designadamente no que resta do Muro; os média começaram a leccionar a mesma história, etc, etc.
Não sei se integrando esta campanha se por iniciativa própria, o Público enviou à Alemanha uma jornalista - Alexandra Prado Coelho (APC) - com o objectivo de ver e, depois, ensinar aos leitores como é que era antes e como é que é 20 anos depois da queda do Muro, ou seja, com o objectivo de, tal como os seus colegas alemães, ensinar a «história da RDA».
APC esmerou-se e, em 6-reportagens-6, distribuídas por 18-páginas-18, proporcionou aos leitores do Público uma soberba lição de estórias.
Lendo as 18-páginas-18 - pecado que eu confesso ter cometido - a primeira conclusão a tirar é que APC, quando partiu da redacção do Público, já levava consigo as conclusões a que iria chegar, pelo que, chegada lá, foi só procurar, e encontrar, quem lhe confirmasse o que ela já sabia...
Para bom cumprimento da tarefa, APC começou por pegar pelos cornos, salvo seja, os resultados da tal sondagem. Para o efeito logo encontrou um estoriador que lhe disse que a opinião desses 57% «não faz zentido» - o que «faz sentido», isso sim, é a opinião contrária...
E ali mesmo ao lado, à mão de semear, estava outro estoriador, gémeo do primeiro, que alertou APC - e ela alerta os leitores do Público - para o gravíssimo risco que todos corremos de as opiniões desses 57% «se transformarem em rejeição da democracia»...
Depois, APC foi encontrando mais pessoas, tudo gente bem informada, tudo estoriadores especializados em «história da RDA», tudo gente escolhida a dedo - de tal forma que até parece que quando APC partiu da redacção do Público já tinha encontro marcado, em Berlim, com quem era necessário encontrar-se para o bom cumprimento da sua tarefa...
E registe-se o facto notável de, nestas andanças todas, neste contacto com pessoas e mais pessoas, Alexandra Prado Coelho não ter encontrado uma só pessoa do grupo daqueles 57% que têm uma opinião contrária à que ela já levava consigo quando partiu da redacção do Público...
A resposta dada por 57% dos inquiridos foi a de que «a antiga RDA tinha mais aspectos positivos do que negativos», sendo que, desses, 8% consideram que «na RDA havia sobretudo aspectos positivos e vivíamos felizes e melhor do que na Alemanha reunificada de hoje» e 49% consideram que «na RDA havia alguns problemas, mas globalmente vivíamos melhor».
Perante isto, o governo alemão viu-se obrigado a vir a público desvalorizar os resultados da sondagem, explicando que eles decorriam do facto de o inquiridos estarem mal informados sobre o que era a RDA - explicação no mínimo estranha, se tivermos em conta que os inquiridos viveram na RDA e vivem, agora, na ex-RDA...
De qualquer forma - e porque vale mais prevenir do que remediar... - o governo alemão decidiu lançar uma «campanha de informação» sobre a «história da RDA» - campanha que tem vindo a ser levada à prática nas escolas, nas ruas, nos média, etc, etc.
E os sinais da «campanha de informação» cedo começaram a surgir: um grupo de «artistas plásticos» começou a ensinar «história da RDA» através de pinturas nas paredes, designadamente no que resta do Muro; os média começaram a leccionar a mesma história, etc, etc.
Não sei se integrando esta campanha se por iniciativa própria, o Público enviou à Alemanha uma jornalista - Alexandra Prado Coelho (APC) - com o objectivo de ver e, depois, ensinar aos leitores como é que era antes e como é que é 20 anos depois da queda do Muro, ou seja, com o objectivo de, tal como os seus colegas alemães, ensinar a «história da RDA».
APC esmerou-se e, em 6-reportagens-6, distribuídas por 18-páginas-18, proporcionou aos leitores do Público uma soberba lição de estórias.
Lendo as 18-páginas-18 - pecado que eu confesso ter cometido - a primeira conclusão a tirar é que APC, quando partiu da redacção do Público, já levava consigo as conclusões a que iria chegar, pelo que, chegada lá, foi só procurar, e encontrar, quem lhe confirmasse o que ela já sabia...
Para bom cumprimento da tarefa, APC começou por pegar pelos cornos, salvo seja, os resultados da tal sondagem. Para o efeito logo encontrou um estoriador que lhe disse que a opinião desses 57% «não faz zentido» - o que «faz sentido», isso sim, é a opinião contrária...
E ali mesmo ao lado, à mão de semear, estava outro estoriador, gémeo do primeiro, que alertou APC - e ela alerta os leitores do Público - para o gravíssimo risco que todos corremos de as opiniões desses 57% «se transformarem em rejeição da democracia»...
Depois, APC foi encontrando mais pessoas, tudo gente bem informada, tudo estoriadores especializados em «história da RDA», tudo gente escolhida a dedo - de tal forma que até parece que quando APC partiu da redacção do Público já tinha encontro marcado, em Berlim, com quem era necessário encontrar-se para o bom cumprimento da sua tarefa...
E registe-se o facto notável de, nestas andanças todas, neste contacto com pessoas e mais pessoas, Alexandra Prado Coelho não ter encontrado uma só pessoa do grupo daqueles 57% que têm uma opinião contrária à que ela já levava consigo quando partiu da redacção do Público...
12 comentários:
POIS!!!!!
(como eu gosto desta palavra)
E esperavas o quê? Que a APC pusesse o seu emprego em risco? Já sabes que há pecados que eu não faço: ler 'essas coisas'. Farei outros...
Um beijo grande
Será que já se esqueceram da Stasi, do Muro de Berlim, da falta de liberdade? É possível. Em Portugal, existem pessoas que dizem que viviam melhor nos tempos de Salazar...
É uma "jornalista" muito competente, sabe que se desagradar ao patrão pode ser despedida.
O anónimo de cima é muito distraído, em Portugal não há certamente 57% de portugueses que viviam melhor no tempo de Salazar.
abraço
Curioso é também o facto de recentemente, na mesma Alemanha na qual tantos e tantos trabalhadores comunistas emigrantes Portugueses entregam a vida, terem absolvido um grupo fascista, o qual, por infringir a lei que proibe propaganda nazi, tinha sido processado por utilizar suásticas, palavras de ódio, xenofobia, só porque o idioma utilizado não era Alemão.
Cientes que isto anda tudo ligado, que a analogia é algo constantemente presente no inconsciente dos mais descuidados, esta criminalização demagógica - que não passa da assumpção do neo-nazismo, em conjunto com a estratégia europeia de aculturação deformada, manipulada, tergiversada, mentirosa, limitadora, sobre comunismo, pretende confundir as populações identificando morte com vida.
Num aspecto estou de acordo, a justiça; a ética; a solidariedade, podem, cada dia mais e não me refiro somente ao corpo, resultar mortais numa sociedade cada vez mais conduzida pela opressão.
Esta não é a sociedade que quero!
Estou com a maioria, com os 57% dos habitantes da ex-RDA!
Podes juntar-me a esses 57%? É que, na verdade, talvez por estar também mal informado, a minha memória da RDA é boa, mesmo sabendo que havia coisas "menos positivas"...
Mas pronto. A verdade é que praticamente só convivi com os parvalhões dos artistas, um ou outro exilado do Chile, pessoal da televisão, desconfio que um ou outro comunista... mas realmente, "estoriador", não falei com nenhum. Azar o meu!
Abraço.
Ainda sou capaz de convidar um desses historiadores a vir cá a casa explicar-me isso tudo direitinho e como se eu tivesse quatro anos de idade...
Juro que havia de ser lindo.
Abraço.
Esta APC, como outros escribas do sistema, nesta matéria, têm que obedecer aos ditames dos "owners and bosses" para defender o «bendito emprego»!
Veja-se o caso da repetição do referendo para a defunta Constuição Europeia, na Holanda e na França, e sobre o horroroso Tratado de Lisboa na Irlanda.
Repetir até ao SIM!
Faz-nos lembrar aquela do Solnado:
" Meu filho; quer queiras quer não queiras tens que ser bombeiro voluntário"...
Um abraço
J.F.
Curiosamente regressei da Alemanha há três dias, país que admiro por diversas razões (que deixei expressas na caixa de comentários, no meu blogue).
Já visitei algumas cidades da ex-RDA, e já noutras ocasiões tive a oportunidade de falar com pessoas que me disseram precisamente que tinham outra qualidade de vida antes da unificação com a RFA. É esse, efectivamente, o sentimento das pessoas.
Mas o branqueamento da História real por aí anda. Com ou sem ajudas de jornalistas como a APC.
Beijinhos amigos
a História nos absolverá!
A DDR era 1 país com 16 milhões de habitantes. A DDR era o país do mundo com maior taxa de medalhados olímpicos per capita. Tanto em 1976, como em 1980 e 1988 foi o 2º país mais medalhado nas olimpíadas, ficando à frente dos USA.
Maria: também eu gosto dessa palavra e dos diversos significados que tem...
Um beijo grande.
Anónimo: Pois.
alex campos: muito competente a agradar ao patrão...
Um abraço.
CRN: a luta que travamos é muito difícil pelos obstáculos que o capitalismo coloca à nossa frente - mas havemos de vencer e de criar a sociedade nova que é o objectivo maior da nossa luta.
Um abraço.
samuel: os «estoriadores» são para quem são, não estão ao dispor de qualquer simples mortal...
Um abraço.
salvoconduto: gostava de assistir a essa cena...
Um abraço.
Joseph: têm que obedecer, é certo - mas às vezes podiam não obedecer tanto...
Um abraço.
Sal: há uns anos estive em Berlim e fiz uma daquelas viagens para turistas na zona oriental: as «informações» que a guia deu eram propaganda anticomunista da mais baixa...
Um beijo.
F.: era isso tudo e era muito mais do que isso tudo...
Um abraço.
Não há pachorra para tamanha «democracia» que a sonae nos quer vender!
Antonio Lains Galamba: é a «democracia» deles...
Um abraço.
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