A FACA O QUEIJO E O GOVERNO...

A Sonae decidiu baixar os salários dos trabalhadores do Público - isto é, da maioria dos trabalhadores, pois os chefes, esses, não foram atingidos pela drástica decisão...
Para o efeito, a empresa seguiu uma prática muito ao jeito democrático do engenheiro Belmiro: ou aceitam a redução dos salários ou são despedidos.
Os trabalhadores, colocados entre a espada e a parede, «aceitaram» a imposição.

Dir-se-á: fizeram bem, entre perder o emprego e perder uma parte do salário... do mal o menos.
E muito provavelmente não teriam outra hipótese: o patrão é que tem o poder, faz o que quer e lhe apetece - além de que, como se sabe, o Governo é do patrão, ao qual obedece fielmente.

Mas atenção: dizendo o que acima se diz, estar-se-á a dizer o mesmo que os belmiros dizem... pelo que há que acrescentar alguma coisa mais.
É imperioso dizer que se tivéssemos um governo democrático, a funcionar no respeito pela democracia, outro galo cantaria: os belmiros não poderiam impor a sua ditadura e, no caso concreto, o Governo democrático imporia à Sonae o respeito pelos direitos humanos e constitucionais dos trabalhadores e impediria a redução dos salários.
E é esse governo democrático que os trabalhadores e o povo têm que conquistar. Para já, votando bem nas próximas legislativas, rejeitando os partidos representantes do grande capital que há 33 anos destroem o País e votando em quem defende, de facto, sempre e em todas as circunstâncias, os seus interesses e direitos: a CDU.
E lutando. Lutando sempre, seja qual for a situação - mesmo quando, por vezes, a luta que se trava não conduza a uma vitória imediata e se traduza, até, numa derrota imediata.

E foi isso, a meu ver, que faltou aos trabalhadores do Público, aos quais o patrão roubou parte dos salários. E lutar, neste caso, poderia ser apenas isto: uma declaração dizendo que consideravam a diminuição de salários uma medida injusta e que só a aceitavam porque a isso eram obrigados, porque o patrão tem a faca, o queijo e o Governo na mão.

Isso não lhes resolveria o problema da redução de salários?: não, não resolveria, mas era um sinal carregado de futuro, porque se tratava da não aceitação passiva de uma injustiça - e teria sido, acima de tudo, um sinal de disponibilidade para a luta.

Como escreveu João Cabral de Melo Neto, no seu fabuloso «Morte e Vida Severina»,

«Muita diferença faz
entre lutar com as mãos
e abandoná-las para trás».

9 comentários:

Anónimo disse...

Muita diferença mesmo, e como bem disseste, mesmo que não tenha efeitos imediatos, tê-lo-á certamente de futuro!
bjs,
Sílvia

CRN disse...

Fernando,

Seria também uma opção, não fosse o medo uma condição, que todos os trabalhadores deste apéndice da sonae, e do governo, unidos, declarassem uma greve.

Sei quão inviável e aparentemente pueril pode resultar esta posição, mas, sou consciente que, a falta de esclarecimento, a contemplação, ou o mero lamento destes trabalhadores (o qual nem sequer transpirou para a população), resulta num coadjuvante no que à implementação da subserviência se refere. Mostrando às massas que, nem aqueles que lhes apontam as inquietações detêm a capacidade de, criticar, de se posicionar, ou de usufruir da sua vontade. Sendo assim mesmo um sinal, para aqueles que o quiserem ver, de que a credibilidade do jornalismo fora das publicações de luta, hoje, em Portugal, não existe.

A revolução é hoje!

Maria disse...

Creio que o medo já é tanto que os trabalhadores nem equacionaram tal hipótese - poderiam sofrer consequências.
A luta vai ser longa e dura, Camarada.

Um beijo grande

Ana Martins disse...

Faz toda a diferença, mas há o medo das represálias e não é pouco. Também há a falta de esclarecimento e formatação ideológica. Porque que se o Público formata a mente dos leitores fará pior com a dos seus trabalhadores. Esperemos que não estejam tão formatados que não saibam votar. Afinal, no voto não podem ter medo de represálias...

Com canção que refere a Maria "A luta vai ser dura, companheiro mas nada mudará o rumo à História"..." Nós temos a certeza da vitória"

Abraço

antónio moreira disse...

-Ora o Publico está falido, toda agente sabe disto. Os trabalhadores foram obrigados a baixar os seus salários contra que garantias da parte da do sr. Belmiro, é isso que interessa .
-Se não houve garantias sobre os postos de trabalho se foi só cedências por parte dos trabalhadores então os trabalhadores do Publico são assim como Häftlengue...

samuel disse...

Alguns dos trabalhadores podem até pertencer a esta nova geração de explorados que acham que a exploração é inevitável e nalguna casos até, legítima.
Somando a isto o medo... temos a explicação do "silêncio".

Abraço.

Op! disse...

Medo, de quê? É importante perguntar!
Do patrão, apenas do patrão? Não!
Há outro factor a ter em conta: os TRAIDORES, e esses estão em todo o lado - nada melhor que denunciar colegas que pretendam organizar alguma acção de protesto para cair nas boas graças de quem manda, sabota-se assim a luta consequente em troca de uma mão cheia de migalhas!
É bom ter olho para esses miseráveis antes tentar fazer seja o que for! É demasiado imprudente e pode até tornar-se inconsequente agir sem ter a certeza que temos não só colegas mas também camaradas na luta.
Unidos venceremos!

Ana Camarra disse...

Faz toda a diferença!
Mas será que quando a Sonae tem lucros inesperados o Belmiro aumenta extraordináriamente os salários?!

beijos

Miguel Jeri disse...

As pessoas esquecem-se muito facilmento do que verdadeiramente significa democrático, ou seja, um governo no qual é o povo quem decide. Têm tendência a pensar que democracia é apenas liberdade de expressão, e ficam-se por aí. Mas a palavra democracia é muito mais profunda que isso: significa um governo do povo e para o povo.