POEMA

JORNADA (VARIAÇÕES)


O dia sai da casca,
toma corpo
e começa a andar
distribuindo ventos, ondas, ternura,
distribuindo canções
e demolindo bastiões
do tempo absurdo
tem que deter-se lentamente,
sua e sorri
e começa a dar a mão aos amigos
e tudo começa a mudar,
e a pessoa que toma um táxi
já não se senta atrás
mas ao lado do chofer
com quem fala amistosamente
com uma amizade mui velha
que acaba de começar,
e que o dia contempla com prazer.

Alguns basiliscos
alguns verdugos
alguns comerciantes
alguns generais
tentam bloquear o caminho ao dia
mas ele desliza entre eles
como a água entre os dedos
que não a podem agarrar;
e só quando ele se realizou
é que se vai, voluntariamente,
deixando um rastro de cores.


Alcides Iznaga

6 comentários:

samuel disse...

Há dias assim... concentram em si a História inteira.
Lindo dia!

Abraço

Maria disse...

Que belo dia!
Obrigada por me dares a conhecer mais um poeta..

Um beijo grande

Anónimo disse...

Dia fugidiu...radioso!

Bonito poema de Iznaga, que ja ouvi falar, mas não conhecia!!

Bom fim de semana

Beijo

Anónimo disse...

Esta é a grande realidade, que a maioria não consegue ver, nem descrever desta maneira tão simples e verídica.
Abraço

Ana Camarra disse...

Os dias são assim: malandros, misteriosos e simples!

beijos

Fernando Samuel disse...

samuel: e vão avançando...
Um abraço.

Maria: é o nosso dia, ao fim e ao cabo...
Um beijo grande.

utopia das palavras: dia que vamos construindo...
Um beijo amigo.

poesianopopular: esta simplicidade que os Poetas tão bem sabem descrever...
Um abraço.

Ana Camarra: e... isto tem dias, não é?...
Um beijo.