POEMA

PRAIA GIRÓN


Praia Girón:
no dia seguinte
ao sangue vertido pelo teu punho potente,
já derrotada a invasão,
já esmagada, com furor crescente,
a nefanda traição,
quisemos ver a tua fronte,
a tua estrela enfurecida na torrente
da cólera! E ver teu coração,
Praia Girón!

Foi um trágico baptismo!
E tu não foste praia, mas abismo!
Um abismo colérico de fuzis agrários!
O estrondo feroz de um cataclismo,
entre lôbregos cantos funerários,
não só para o crime dos cobardes mercenários
mas para a força vil do imperialismo!

Ali ficou destruída
e transformada em lodo e em latrina!
Pela primeira vez vencida
por um pequeno povo da América Latina!

Vimos o rosto das tuas pedras calcinadas;
em Soplillar e em Pálpite barracas destruídas,
como se os traidores, as hediondas manadas
de gangsters, as manadas
de violentos fulheiros, usassem as jornadas
do crime para vê-las destruídas!

E sim! Contra eles era
o fogo principal da investida!
Contra os camponeses, a primeira
descarga. E a segunda para a nobre vida,
para a vida da classe obreira!

Porque são os humildes, com os puros e abertos
cálices acesos no seu limpo decoro,
os que com mais pujança e músculos despertos
defendem o tesouro da Pátria! Não o ouro
que do burguês defende cada poro
contra a Pátria, não! Para o operário
e para o camponês
nunca será o dinheiro
o primeiro,
mas a Pátria e o seu feliz destino!

Mas vimos também, Praia Girón tremenda,
na Playa Larga e em San Blas o mesmo
que em ti vimos: a grande, a estupenda
derrota mercenária e do imperialismo!

O teu rosto era a esplêndida ufania
dos rebeldes heróicos e da polícia
de Havana valente e dos valentes milicianos!
E de rastos sobre a vil hipocrisia,
os putrefactos gusanos!

De nada lhes serviram as armas infernais,
barcos, aviões, tanques, metralhadoras e fuzis,
que lhes deram as forças imperiais
de Kennedy! Tão vis, tão covardes e vis
gusanos não puderam segurá-las nas mãos
quando os atacámos. A maior parte delas
veio para nós a golpes de relâmpagos.
Dos relâmpagos dos milicianos!

Mas nas tuas mãos as vimos, Praia Girón! As vimos,
enquanto os escuros gusanos se arrastavam!
E com grande orgulho de Pátria e de bandeira
essa clara manhã de ti nos despedimos.


Manuel Navarro Luna

4 comentários:

Maria disse...

Tremendo poema!
O cheiro de Cuba continua a passear-se por aqui... e é tão bom...

Um beijo grande

samuel disse...

Grande argumento!
O bloqueio americano é um pretexto para justificar as dificuldades.
Temos grandes crâneos nos nossos jornais, ou o quê?!

Abraço

samuel disse...

Muito bom!

O meu comentário anterior era, evidentemente, para o post "resistência heróica".
Gostaria de dizer que saltei directamente para aqui para não pisar no anónimo... mas não. Enganei-me mesmo.

Abraço

Fernando Samuel disse...

Maria: é o cheiro da ilha...
Um beijo grande.

Samuel: pronto, fico a pensar que o salto foi intencional, não se fala mais nisso...
Um abraço.