POEMA

CORO DOS ÓRFÃOS



Nós órfãos
queixamo-nos ao mundo:
Cortaram-nos o nosso ramo
e atiraram-no ao fogo -
lenha de queimar fizeram dos nossos protectores -
Nós órfãos jazemos nos campos da solidão.
Nós órfãos
queixamo-nos ao mundo:
na noite os nossos pais jogam connosco às escondidas -
por trás das dobras negras da noite
as suas faces nos olham,
falam as suas bocas:
Lenha seca fomos nós na mão dum lenhador -
mas os nossos olhos fizeram-se olhos de anjos
a olham para vós,
através das dobras negras da noite
eles olham -
Nós órfãos
queixamo-nos ao mundo:
Das pedras fizemos os nossos brinquedos,
pedras têm caras, caras de pai e mãe,
não murcham como flores, não mordem como bichos -
e não ardem como lenha seca quando as metem no forno -
Nós órfãos queixamo-nos ao mundo:
Mundo porque nos tiraste as nossas mães ternas
e os pais que dizem: Meu filho, és parecido comigo!
Nós órfãos não somos parecidos com ninguém mais no mundo!
Ó Mundo
queixamo-nos de ti!


Nelly Sachs


2 comentários:

Maria disse...

E os órfãos têm razão para se queixarem do Mundo, dos homens mesquinhos que mandam no Mundo...

Um beijo grande.

samuel disse...

É o destino dos órfãos: tomar o mundo nas mãos... e mudá-lo.

Abraço.