POEMA

A VESTE DOS FARISEUS


Era um Cristo sem poder
sem espada sem riqueza
Seus amigos o negavam
antes do galo cantar
A polícia o perseguia
guiada por Fariseus

O poder lavou as mãos
daquele sangue inocente
Crucificai-o depressa
lhe pedia toda a gente
guiada por Fariseus

Foi cuspido e foi julgado
no centro duma cidade
Insultos o perseguiram
e morreu desfigurado

O templo rasgou seus véus
e Pilatos seus vestidos
Rasgaram seu coração
Maria Mãe de João
João Filho de Maria

A treva caiu dos céus
sobre a terra em pleno dia

Nem uma nódoa se via
na veste dos Fariseus


Sophia de Mello Breyner Andresen


6 comentários:

Justine disse...

As nódoas dos fariseus são tão fundas, na pele e não nas vestes, que não se vêem a olho nu...

samuel disse...

Conheci (e conheço) alguns destes Cristos...
Infelizmente, também conheço alguns dos Fariseus.
Extraordinário poema!

Abraço.

vovó disse...

Ups!!!
É Muito Bom!
tudo o que a Sra escrevia Era.. É!

beijocasssssss
vovómaria

Maria disse...

Vou ter que reler toda a obra de Sophia. Não me lembrava deste poema...
tão bonito!

Um beijo grande.

Graciete Rietsch disse...

Bonito e excelente poema. Mas os fariseus continuam por aí com "nódoas tão mal disfarçadas" mas com armas bem visíveis contra os Cristos que continuam a lutar.

Um beijo.

Fernando Samuel disse...

Justine: e não há tira-nódoas que os limpe...
Um beijo.

samuel: andam por aí, uns e outros, na mesma luta de sempre...
Um abraço.

vovó: quase tudo... ninguém é perfeito...
Um beijo amigo.

Maria: vale sempre a pena reler Sophia.
Um beijo grande.

Graciete Rietsch: ó se continuam!...
Um beijo.