POEMA

CAMÕES E A TENÇA


Irás ao paço. Irás pedir que a tença
seja paga na data combinada
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce

Em tua perdição se conjuraram
calúnias desamor inveja ardente
e sempre os inimigos sobejaram
a quem ousou mais ser que a outra gente

E aqueles que invocaste não te viram
porque estavam curvados e dobrados
pela paciência cuja mão de cinza
tinha apagado os olhos no seu rosto

Irás ao paço pacientemente
pois não te pedem canto mas paciência

Este país te mata lentamente


Sophia de Mello Breyner Andresen


3 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Paciência e resignação é o que nos exigem. Resistência e luta,não!!
Muito belo e actual este poema construído com base num soneto de Camões.

Um beijo.

Maria disse...

Reagir à tentativa de nos porem a pata em cima é preciso! Para isso cá estamos.

Um beijo grande

svasconcelos disse...

Certeira, a Sofia... este país tem-nos minado lentamente, não concebe o futuro, não alenta a juventude, não tributa os velhos... tão triste, o meu país...
Mas é também por ele que "vale a pena lutar", que tem de se lutar!
beijo,