POEMA

AS PESSOAS SENSÍVEIS


As pessoas sensíveis não são capazes
de matar galinhas
Porém são capazes
de comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
à roupa do seu corpo
aquela roupa
que depois da chuva secou no corpo
porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
a roupa
que depois do suor não foi lavada
porque não tinham outra

«Ganharás o pão com o suor do teu rosto»
assim nos foi imposto
e não:
«Com o suor dos outros ganharás o pão»

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
porque eles sabem o que fazem


Sophia de Mello Breyner Andresen

4 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Não,não podem ser perdoados exactamente porque sabem o que fazem!

Um beijo.

samuel disse...

Felizmente, eu não sou "o Senhor"...

Abraço.

Maria disse...

Muito belo (e tão actual) este poema de Sophia.
Por um momento lembrei-me de Saramago e do último parágrafo do 'evangelho'.

Um beijo grande.

svasconcelos disse...

Há tempos que não esbarrava neste poema... vou levá-lo para o meu "canto".:9
beijo.