CARTAS DE COMUNISTAS (2)

MILITÃO RIBEIRO


«Militão Bessa Ribeiro, preso juntamente com Álvaro Cunhal em 25 de Março de 1949 (a sua quarta prisão» já se encontrava então com a saúde muito abalada por longos anos de prisão e duas deportações no Campo de Concentração do Tarrafal.
O rigoroso regime prisional, a alimentação imprópria e a falta de tratamento começaram por agravar-lhe os padecimentos. Esteve semanas inteiras sem evacuar, sendo-lhe inclusivamente recusado um clister. Cada vez mais abatido, acabou por adoecer gravemente e resolveu fazer greve da fome como protesto contra a falta de assistência médica e de uma dieta adequada.
Foi mudado para uma cela da enfermaria da Penitenciária, mas a situação manteve-se praticamente na mesma, no mais rigoroso isolamento, sem visitas da família nem mesmo correspondência.
(...) Até às vésperas da morte, Militão manteve a preocupação de de comunicar ao Partido a sua fidelidade e confiança. Escreveu várias cartas à Direcção do Partido, que foram interceptadas pelos carcereiros, só tendo chegado duas ao seu destino, uma das quais escrita com o seu próprio sangue.
A PIDE assassinou-o cruelmente, um crime lento, dos que não deixam vestígios. Militão morreu de inanição em 2 de Fevereiro de 1950».
(José Dias Coelho, A Resistência em Portugal)


Eis dois extractos dessas cartas, escritas com sangue, que chegaram à Direcção do Partido:

«Tenho sofrido o que um ser humano pode sofrer. Nem sei como tenho tido forças para tanto. Mas com todo este sofrimento nunca deixei de ter fé na nossa causa. Sei que venceremos.
Desde sempre mantive a disposição de dar a vida pelo Partido em todas as circunstâncias, assim como a dou de uma forma horrível e cheia de sofrimento. Mesmo quase já um cadáver, ainda fui esbofeteado por um agente. Dores, insónias, fome, agonias, tudo tenho sofrido nestes sete meses, quase sempre de cama, sem me poder mexer»
.

«Tenho confiança que sabereis vencer todos os obstáculos e levar o Povo à vitória, mantendo essa disciplina e controlo severo de uns sobre os outros em trabalho colectivo, como vínhamos fazendo e aperfeiçoando. Que infelicidade a minha só aos cinquenta anos ter começado a trabalhar dessa forma. Felizes os que vêm novos para o Partido e o encontram a trabalhar assim».


MILITÃO RIBEIRO

12 comentários:

trepadeira disse...

Que exemplo.
Que respeito nos deve merecer.
Não basta só lembrá-lo.
É indispensável chapá-la na cara de algumas bestas,armadas em figurões,que por aí andam.

Um abraço,
mário

samuel disse...

Felizes aqueles que, mesmo com infinitamente menos força, podem usufruir de tais exemplos.

Abraço.

svasconcelos disse...

Estas cartas doem tanto...:(
Que seres extraordinários, estes que abriram o caminho da (minha e de tantos outros jovens )LIBERDADE.
Um beijo,

Anónimo disse...

Grande Homem!
Um grande exemplo de coragem e vontade de lutar.
Para continuar a sofrer desta maneira, é preciso uma grande força interior e uma enorme determinação.
De pouco valeram a crueldade, o ódio e a tortura da PIDE.
Levaram o seu corpo, mas não conseguiram o seu espírito.

A última frase da carta é única: «Felizes os que vêm novos para o Partido e o encontram a trabalhar assim».

GR disse...

«Felizes os que vêm novos para o Partido e o encontram a trabalhar assim»

Pelo camarada Militão Ribeiro, por mim, pelo nosso Partido tento contribuir diariamente com trabalho (apesar de ser tão pouco e insignificante, comparado ao muito que Militão e tantos outros camaradas fizeram e fazem)mas, haverá algum partido que dê tanta felicidade? só o PCP.

BJS,

GR

Pintassilgo disse...

A luta continuará até à vitória final.

Antuã disse...

Assim se vê como são as bestas nazi-fascistas. Viva a luta dos Comunistas.

Maria disse...

Nem consigo comentar...

Um beijo grande.

Anónimo disse...

Esta crueldade, das bestas do passado não é diferente das bestas do presente! Se o dono vir-se ameaçado solta os cães de serviço.
Estamos cá para resistir e avançar, até a vitória final.
nuno

albano ribeiro disse...

Assim se construiu este partido com camaradas desta têmpera, continuamos lutando e construindo este partido com noventa anos de idade,sem vacilar.Respeito e admiração à sua memória.
Um abraço

Fernando Samuel disse...

mário: bem preciso é.
Um abraço.

samuel: são exemplos... fortificantes...
Um abraço.

svasconcelos: extraordinários e, no entanto... tão comuns...
Um beijo.

Anónimo: é a têmpera revolucionária...

GR. é graças aos contributos de cada um que o Partido é o que é.
Um beijo, camarada.

Pintassilgo: cá estamos para ela.
Um abraço.

Antuã: VIVA O PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS.
Um abraço.

Maria: um beijo grande.

nuno: e a vitória será nossa.
Um abraço.

albano ribeiro: e seremos dignos sucessores destes heróis.
Um abraço.

Anónimo disse...

portanto já sabes:
Se não consegues cagar e não te dão um clister, faz greve da fome porque lá diz o ditado " Se não entrar, não tem de sair".