POEMA

A CAMISOLA


Sou filho de família muito humilde,
tão humilde que duma cortina velha
me fizeram uma camisola. Vermelha.
E por causa dessa camisola
nunca mais pude andar pela direita.
Tive de ir sempre contra a corrente,
porque não sei o que se passa
que todos os que a enfrentam
vão sempre de cabeça no chão.
E por causa dessa camisola
não mais pude sair à rua
nem trabalhar no meu ofício
de ferreiro.
Tive de ir para o campo de jornal,
pois assim ninguém me via.
Trabalhava com uma foice.
E apesar de todos os males,
sei trabalhar com duas coisas:
com o martelo e a foice.
Quase não compreendo como a gente
quando me via pela rua
me gritava: Progressista!
Eu julgo que tudo era
causado por ignorância.
Talvez noutra circunstância
já tivesse mudado de camisola.
Mas como gosto muito dela,
porque é quente e me consola,
peço-lhe que não se faça velha.


Ovidi Montllor


3 comentários:

samuel disse...

Há pessoas assim... :-)

Abraço.

Maria disse...

E seguramente a camisola ainda existe e resiste!

Um beijo grande.

Graciete Rietsch disse...

A nossa camisola nunca perderá a cor,nunca será velha. Será sempre vermelha, a cor da luta e da esperança.

Um beijo.