Foi no Funchal: nas eleições presidenciais de 1980, uma colossal trapaça roubou a vitória ao candidato Ramalho Eanes e ofereceu-a a Soares Carneiro.
Quem o diz é uma pessoa que presenciou a golpaça: António Fontes, na altura militante da JSD/Madeira e agora deputado na Assembleia Regional pelo PND.
«Eu estive lá. Eu sei o que vi e o que se fez»: diz Fontes - e explica como a trapaça foi feita: «pondo cruzinhas em boletins de voto e descarregando nos cadernos eleitorais», nos eleitores que se abstiveram.
E acentua: «E não foram 10 ou 15 votos por mesa, mas 300 a 400».
Resultado da trapaça: Ramalho Eanes ganhou, de facto, em todas as mesas, mas o «vencedor oficial», em todas as mesas, foi Soares Carneiro...
Perguntado porquê só agora, mais de trinta anos passados, denunciou a fraude, Fontes esclareceu que o fez logo na altura, junto de Alberto João Jardim - nem podia escolher melhor, digo eu... - mas que este não deu andamento à denúncia - pudera!...
A meu ver, este caso reveste-se de grande importância e empurra-nos para a inevitável interrogação: quantas golpaças semelhantes ocorrerão em cada acto eleitoral, não apenas na Madeira mas também aqui no contenente, em especial naqueles jardinzinhos onde os partidos da política de direita têm um domínio absoluto?
Mas não esqueçamos que, como todos os dias nos é dito, temos um Parlamento «democraticamente eleito»...
9 comentários:
...e um "Estado de Direito"!
Abraço.
Deixa de ser um Estado de Direito, passa, isso sim, a um Estado a (torto) e a Direito.
E os restantes membros das mesas de voto foram nisso ?
Que palhaços !
Eles continuam a ser capazes de tudo. Por isso é preciso estarmos sempre vigilantes. Mesmo enquanto dormimos...
Um beijo grande.
Eu já assisti, nestas ultimas eleições, a tentativas de fraude igual, em Mafra, que me fizeram suspeitar que isso acontece, por norma, onde não temos delegados nas mesas. Não tendo provas, mas tendo fortes suspeitas de que essas fraudes são frequentes ou mesmo normais nos locais em que não há delegados de outros partidos, publiquei uma reflexão irónica em http://c-de.blogspot.com/2011/06/reflexao-3.html. Ainda há quem se convença que estamos numa democracia.
Democracia devia ser a vida participada, partilhada, activa, entre eleições, todos os dias... democracia em que as eleições seriam um resultado dessa prática diária. Assim, não passam de uma formalidade descredibilizada, que cada vez mais cidadãos desrespeitam, ou pura e simplesmente ignoram.
Abraço.
As eleições são uma festa, mas,a luta não deve, nem pode ser esquecida.
Eles são capazes de tudo, mas mesmo tudo!
Abraço
Será que é desta que cai o Alberto João?
Vamos ter uma «primavera árabe» na ilha da Madeira»?
Texto do deputado Rui Tavares, no seu sítio do Facebook.
Quase ninguém deu por isso, mas a Islândia abandonou com sucesso o seu programa com o FMI — depois de ter feito quase tudo ao contrário do que deseja o nosso governo em Portugal. Mas atenção: também a política islandesa é o contrário de tudo o que é a política portuguesa.
Em maio passado ouvi o ministro das finanças islandês, Steingrímur Sigfùsson, explicar como tinham sido as negociações com o FMI. "Disse-lhes: nós éramos um país da família escandinava, de bem-estar social, e nos últimos anos entrámos numa deriva louca para um capitalismo desregulado, de tipo anglo-saxónico, que acabou por levar o país à bancarrota em menos de uma semana. O que nós queremos agora é ver-nos livres do FMI o mais depressa possível, para voltar à nossa família original".
Praticamente inconcebível era aquele ministro das finanças ser também o líder da Esquerda Verde — o equivalente, na Islândia, a uma mistura entre o Bloco de Esquerda e o PCP de Portugal.
Por aquela altura em Portugal, recorde-se, ambos estes partidos se tinham recusado a ir a uma mera reunião com a troica — e no entanto estava ali um presidente da Esquerda Verde, aliada no governo à Aliança Social-Democrata (que seria um equivalente ao PS português), contando-me como tinham sido as suas negociações com o FMI. E que respondeu o FMI? "Que fizéssemos como quiséssemos, desde que puséssemos os indicadores orçamentais em ordem e pagássemos o empréstimo".
Esquerda Verde e Sociais-Democratas arregaçaram as mangas e aplicaram praticamente uma contra-receita do que nos está a acontecer. Começaram por uma reforma fiscal a sério, fazendo os ricos pagar muito mais impostos. Criaram taxas sobre a poluição. Depois sim, tiveram de fazer alguns cortes, mas assim foram mais limitados e legitimados.
O resultado é que a Islândia, onde os bancos tinham estourado dez vezes a economia do país, o desemprego decuplicado e a moeda caído sessenta por cento, conseguiu dar a volta à crise com um mínimo de injustiça — e sair por cima.
Aqui há tempos, nos círculos de esquerda e não só, a Islândia era muito falada por se ter recusado, em referendo, a pagar uma parte da dívida dos bancos nos termos que lhes eram exigidos internacionalmente. Falou-se em Revolução Islandesa e apresentou-se o seu caso como uma lição.
Houve sim uma Revolução Islandesa, mas as lições são três: económica, política e cívica.
A primeira é que a heterodoxia económica saiu vencedora. As contas foram postas em ordem, com mais justiça, e com mais eficácia.
A segunda é que não pode haver heterodoxia económica sem heterodoxia política. Se queres romper com o pensamento único da austeridade, vais ter de romper com a tirania do purismo esquerdista. Numa situação destas, qual é a prioridade: manter os velhos hábitos ou correr riscos para salvar o país? A esquerda islandesa, menos sabichona, tem uma resposta. A portuguesa, certamente muito mais pura, tem outra. Eles estão no governo e mandaram o FMI para casa. Nós vamos gemer sob a aliança Passos Coelho-Portas. Enquanto a esquerda se canibaliza, a austeridade canibaliza o povo.
A terceira lição é ainda mais importante. Os cidadãos islandeses não deixam mais nenhum governo, nem sequer este, safar-se com qualquer medida — daí os referendos. A Islândia passou por um enorme despertar cívico. Em quase todas as livrarias islandesas vi à venda um livro sobre política, com uma frase de Platão escrita na capa. Era esta: "o castigo por não quereres participar na política é acabares governado por pessoas piores do que tu".
no fundo, coisas que todos desconfiamos que aconteça, que acontecem, mas que é melhor nem falar!... mas também... o senhor já podia ter falado há mais tempo!...
que é que ele quer agora?? ser eleito democraticamente???
um abraço nem nulo, nem em branco
Enviar um comentário