POEMA

BALADA DAQUELE QUE CANTOU NA TORTURA


E se houvesse que voltar
atrás eu voltaria
Uma voz sobe dos ferros
e fala de um outro dia

Dizem que na sua cela
dois homens tinham entrado
Sussurravam: Capitula
vê-se que estás cansado

Podes viver a vida
acata os nossos conselhos
diz a palavra que livra
e viverás de joelhos

E se houvesse que voltar
atrás eu voltaria
A voz que sobe dos ferros
fala já para o novo dia

Só uma palavra e a porta
abre-se logo e tu sais
Assim o carrasco exorta
sésamo: Não sofras mais

Uma palavra só mentira
o teu destino retém
na doçura das manhãs
pensa pensa pensa bem

E se houvesses que voltar
atrás eu queria ir
A voz que sobe dos ferros
fala aos homens do porvir


Aragon

6 comentários:

Maria disse...

Numa palavra vender a Honra e a sua condição de Homem de coluna vertical? NUNCA!!!!!
Belo poema.

Um beijo grande.

samuel disse...

Muito bom!
(e a tradução também)

Abraço.

Anónimo disse...

Muito bem, Aragon e obrigado ao colectivo do «Cravo de Abril» pela sua publicação.

(Jorge)

Graciete Rietsch disse...

"E não falou!!!!"
Esta fantástica frase aplica-se a tantos seres torturados até à morte
sem terem sequer feito uma denúncia que porventura lhes salvaria a vida,
É uma frase de bom cinema de resistência, mas também referente a HERÓIS da vida real.

Um beijo.

Bolota disse...

Fala aos homens do porvir
Fala aos homens d´agora
Daqueles que a sorrir
Sem vergar se vão embora

Fernando Samuel disse...

Maria: nunca, seja qual for a situação.
Um beijo grande.

samuel: é da Luiza Neto Jorge...
Um abraço.

Jorge: um abraço, camarada.

Graciete Rietsch: nos nossos 90 anos de História temos muitos exemplos desses.
Um beijo.

Bolota: muito bem!
Um abraço.