POEMA

MASSA


No final da batalha,
e morto o combatente, aproximou-se dele um homem
e disse-lhe: «Não morras, amo-te tanto!
Mas o cadáver, ai!, continuou a morrer.

Aproximaram-se dele dois e repetiram-lhe:
«Não nos deixes! Coragem! Volta à vida!»
Mas o cadáver, ai!, continuou a morrer.

Acudiram-lhe vinte, cem, mil, quinhentos mil,
clamando: «Tanto amor, e não poder nada contra a morte!»
Mas o cadáver, ai!, continuou a morrer.

Milhões de indivíduos o rodearam,
num pedido comum: «Não nos deixes, irmão!»
Mas o cadáver, ai!, continuou a morrer.

Então, todos os homens que há na terra
o rodearam; viu-os o cadáver, triste, emocionado;
soergueu-se lentamente,
abraçou o primeiro homem. E começou a andar...


César Vallejo

3 comentários:

Graciete Rietsch disse...

É a esperamça que vive, porque os Homens continuam a luta, mesmo quando os pensam submetidos.

Um beijo.

samuel disse...

Sim, terão que ser todos... ou pelo menos uma esmagadora maioria.

Abraço.

Maria disse...

Que força! E que arrepio...

Um beijo grande.