Cavaco Silva, quando da sua recente tomada de posse como Presidente da República, mal acabou de prestar o juramento de «defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa» - juramento que é obrigatório e, por isso, e só por isso, o fez - proferiu um discurso com o qual, desde logo, quebrou o juramento acabado de fazer...
Ontem, na sua qualidade de «Comandante Supremo das Forças Armadas», voltou a discursar. E voltou a reincidir no desprezo e na afronta à Constituição e ao regime democrático que ela configura.
E desta vez foi ainda mais longe.
Aquilo que muitos julgavam impossível, aconteceu: 37 anos após o 25 de Abril, o Presidente da República Portuguesa fez a defesa e o elogio da guerra colonial conduzida pelos ditadores fascistas Salazar e Caetano - uma guerra que o regime fascista impôs a Portugal e aos portugueses, especialmente aos jovens soldados portugueses, e que provocou dezenas de milhares de mortos, feridos, estropiados e vítimas das mais graves sequelas.
E fê-lo com o recurso a frases e ideias repescadas da propaganda fascista da época: «os soldados portugueses foram, em África, soldados de excepção» e encontram-se «entre os melhores servidores da Pátria»...
Fê-lo recorrendo ao patrioteirismo rasteiro dos dirigentes fascistas de então, enaltecendo a «intervenção militar que permitiu que um País com a dimensão e os recursos de Portugal pudesse manter o controlo sobre três teatros de operações distintos, vastos e longínquos».
Fê-lo retomando os velhos slogans fascistas: «Juntos continuaremos a afirmar Portugal»...
Fê-lo, enfim, num discurso aos jovens de hoje que é uma assumida e desavergonhada adaptação do discurso de Salazar aos jovens de então: «Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do País com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar»...
Com este discurso, Cavaco Silva confirmou o que já se sabia: que nada tem a ver com Abril, a liberdade, a democracia - e tem tudo a ver com o regime de opressão e repressão a que os valentes militares do MFA, em aliança com o Povo, puseram termo.
Com este discurso, Cavaco Silva confirmou que, sem o 25 de Abril de 1974, teria sido um natural sucessor de Américo Tomás.
E é caso para nos interrogarmos sobre as razões que o levaram a exibir tais confirmações...
Por mim, continuo a dizer: cuidado, eles andam por aí...
12 comentários:
É verdade Fernando eles andam por aí... Mas desta vez não vão além das Berlengas.
Um abraço.
Fernando Samuel
Assim que ele falou na TV eu disse logo para a esposa e para a filha que ele estava a enaltecer a guerra do Ultramar e que salazar e caetano diriam o mesmo. O que tu escreveste no post veio confirmar o que eu disse e está muito bem escrito por ti. Gostaria de ter sido eu a escrever o que tu postaste. Parabéns.
Vitor sarilhos
Andam... e desavergonhadamente.
Mais uma vez nos "encontramos"... como seria de esperar. :-)))
Abraço.
Guerra do Ultramar? Mas que raio de presidente nós temos? E mais cinco anos disto? Porra que é demais!
Abraço
É só o "láparo" chegar ao poder, e os dois juntos ainda hão de querer reactivar a Mocidade Portuguesa !
Têm duas máscaras. Aquela que usam para as televisões e nas instituições: de democratas, republicanos, humanistas, solidários com causas sociais, etc...
Quando retiram a máscara, são aquilo que mais conservador e perverso existe na nossa história: são fascistas, capitalistas, monárquicos, militaristas, apoiantes de repressões, opressões, prisões, etc...
(Jorge)
Quando ouvi o discurso na televisão não queria acreditar: tanto revivalismo e saudosismo de outros tempos... Eu, pessoalmente, não me lembro de ter ouvido um discurso tão salazarista como o de ontem: "jovens com coragem e determinação de há 50 anos para defender a pátria?!". Passei a minha infância a ouvir os lamentos de alguns desses jovens que diziam ter sido obrigados a ir para uma guerra da qual discordavam...
Tens razão, Fernando Samuel, isto anda esquisito...
Um beijo,
Andam por aí,andam,já a afiar os dentes.
Tenho muitas histórias para contar sobre tamanhos,não me lembra nenhum nome que possa escrever.
Vão saindo aos poucos.
Um abraço,
mário
Fernando,
Eu que ia deixando a pele na Guiné, fiquei de boca aberta ao ouvir tamanha barbaridade.
Sabes porque ele fala assim??? Porque a guerra dele foi outra até lhe deu o direito de levar a Maria a coitada que só tem de reforma 800 €.
Esta beneses só tinham direito os meninos do regime como é obvio. O Bolota nem lhe deram tempo de meter os pés no chão, acabou a especialidade, telegrafista e Guiné com ele. Foi o premio de ter tido uma das melhores notas. Tivesse uma má e a merda era a mesma, Guiné com ele.
Esta é a magistratura de influencia que ele tanto apreguo-o???
Não é nada de admirar porque vem de alguém que ,no tempo do fascismo, se declarou integrado no sistema. Mas é muito triste que esse homem seja o Presidente da República do Portugal de Abril.
Um beijo.
Eles andam, e a gente sabe.
Mas grito como o Ary: "Agora ninguém mais cerra as portas que Abril abriu"!!!
Um beijo grande.
O Cavaco consegue ser mais bronco que o Américo Thomaz.
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