POEMA

MEUS IRMÃOS...


Meus irmãos
É preciso atrelar os nossos poemas
à charrua do boi magro
É preciso que este se enterre até aos joelhos
na vaza dos arrozais
É preciso que eles façam todas as perguntas
É preciso que recolham toda a luz
É preciso que os nossos poemas como marcos milenários
balizem as estradas
É preciso que sejam o sinal a anunciar a aproximação do adversário
É preciso que batam tambores na selva

E enquanto na terra houver um único país ou um único homem escravo
E enquanto no céu restar nem que seja uma única nuvem atómica
É preciso que os nossos poemas dêem tudo por tudo,
corpo e alma,
para a grande liberdade.


Nâzim Hikmet

4 comentários:

samuel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
samuel disse...

E dão... muitos têm dado sempre.
Poemas em todas as formas. De sal no rosto, de terra nas botas, suor no bafo dos altos fornos, pulmões queimados nas canas do vidro em fogo ou no pó assassino das minas, dureza na clandestinidae, resistência em celas putrefactas, rebeldia nas escolas, escrita de combate, vozes rasgadas nos palcos...
Tantos poemas!

Abraço.

Maria disse...

A poesia é, ela própria, um caminho de luta para a liberdade.
Nazim Hikmet um dos responsáveis (também) por isso.
Belo!

Um beijo grande.

Fernando Samuel disse...

samuel e Maria: afinal. é essa a nossa Poesia.
Um abraço e um beijo.