POEMA

DA VIDA


No caso de estarmos doentes
e tão gravemente
que seja preciso recorrer ao bisturi,
isso significa que porventura
não vamos mais erguer-nos do bilhar branco.
Então, embora sentindo uma grande tristeza
por ir embora demasiado cedo
vamos rir à mesma
ao ouvir uma anedota,
vamos olhar pela janela
para ver se o tempo está de chuva
ou vamos guardar, ansiosamente,
as notícias da última hora.

No caso de estarmos na frente de batalha
a lutar por uma causa que valha a pena,
logo desde o primeiro dia e desde o primeiro embate
podemos cair de nariz no chão e morrer.
Sabemo-lo, é intensa a nossa amargura,
mas apeasr disso
somos ainda ansiosos e apaixonados,
gostávamos de ter uma saída para essa guerra
que ainda pode durar anos.

No caso de estarmos na prisão
prestes a fazer os cinquenta
e devendo ainda esperar dezoito anos
pelo abrir das grades,
mesmo então
não deixaremos de viver com o mundo lá de fora,
com seus homens, seus animais, suas lutas e seus ventos
Com o mundo além-muros.
Assim, onde quer que estejas e sejam quais forem as circunstâncias
deves viver
como se nunca houvesses de morrer.


Nâzim Hikmet

5 comentários:

samuel disse...

Senão... não é bem viver, mas esperer passivamente a morte...

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Este poema admirável é um hino à vida mesmo perante a morte quando se tem a consciência que é pela VIDA que lutamos.

Um beijo.

Maria disse...

Um incentivo à resistência, à luta, à capacidade de sobrevivência e à vida!
Muito belo!

Um beijo grande.

GR disse...

Adorei este poema.
A forma correcta de ver a Vida, mesmo que a morte esteja próxima.
Lutar até ao fim!

Bjs,

GR

Fernando Samuel disse...

samuel: a opção de (infelizmente) muitos...
Um abraço.

Graciete Rietsch: e viver é lutar...
Um beijo.

Maria: a vida só termina depois da... morte.
m beijo grande.


GR: viver a vida até ao último instante.
Um beijo.