POEMA

NÃO NOS DEIXAM CANTAR


Não nos deixam cantar, Robeson*,
meu canário com asas de águia,
meu irmão negro com dentes de pérola,
não nos deixam cantar as nossas canções.
Têm medo, Robeson,
medo da aurora, medo de olhar,
medo de ouvir, medo de tocar.
Têm medo de amar,
medo de amar como amou Ferhat, apaixonadamente.
(Decerto que também vocês, irmãos negros,
têm um Ferhat, como é que lhe chamas, Robeson?)
Têm medo da semente e da terra,
medo da água que corre,
medo da lembrança.
A mão de um amigo que não deseja
nem desconto nem moratória,
igual a um pássaro quente,
não apertou nunca a sua mão.
Têm medo da esperança, Robeson, medo da esperança!
Têm medo, meu canário com asas de águia,
têm medo das nossas canções, Robeson...



Nazim Hikmet


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* Paul Robeson - cantor negro americano já falecido. Do seu repertório faima parte cantos espirituais negros e outras canções tradicionais e de combate. (N.T)

4 comentários:

samuel disse...

E um "Tony Carreira"? Não tinham por lá um? Cantassem o seu "Tony Carreira"... que já não arranjavam problemas! Ora esta!...

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Tão bom, tão bom este poema que nem sei dizer mais nada.
Várias vezes ouvi o Paul Robeson.
Lindíssimo, impregnado de luta.

Um beijo.

Justine disse...

E continuam a ter!
Belíssimo poema

Maria disse...

E continuam a ter medo de quem canta!
E a poesia dá-nos ainda mais força!

Um beijo grande.