O FOLCLORE

O Bloco Central está na ordem do dia: chovem as opiniões de dirigentes dos partidos da política de direita e dos analistas de serviço sobre a possibilidade de PS e PSD juntarem os trapinhos, caso nenhum obtenha a maioria absoluta nas legislativas.
Diz um que o país não está assim tão mal que justifique essa medida «salvadora»; diz outro que tal medida seria «o 112 da crise»; outro diz «nunca!»; outro diz «talvez»; outro diz «sim»...
No fundo, o que todos querem dizer ao dizer o que dizem é que o essencial é assegurar a continuação da política de direita da qual o PS e o PSD têm sido os executores exclusivos (quando necessário com o CDS/PP), desde que Mário Soares a iniciou, já lá vão 33 sombrios anos.

Para o grande capital - que é o dono disto tudo, inclusive dos executores e propagandistas da política de direita - o Bloco Central, não é, de todo, a solução ideal: convém-lhe muito mais que seja um dos dois partidos, não importa qual, a cumprir a tarefa de bem aplicar essa política, de modo a que o outro possa continuar a fingir que é oposição, e a manter a patranha de que PS e PSD são opositores e alternativa um ao outro.
Como temos visto, essa modalidade tem a enorme vantagem de fazer com que, em cada eleição, milhões de eleitores descontentes com o governo PS (ou PSD), votem no PSD (ou no PS), isto é: que milhões de eleitores descontentes com a política de direita, voltem a votar nessa política julgando que estão a votar numa política diferente.

No entanto, os senhores do grande capital sabem que o capitalismo vive a maior e mais grave de todas as suas crises - que não é a última mas que confirma que a última há-de chegar...
Sabem que vão «superar» essa crise da única maneira que conhecem: acentuando a exploração dos trabalhadores.
Sabem, também, que essa crise atinge todo o mundo capitalista de que Portugal faz parte.
Sabem, ainda, que quando a crise cá chegou, já a política de direita mergulhara o País numa crise profunda que, agora, tudo indica vir a ser a mais grave e duradoura de sempre.
Sabem, finalmente, que os trabalhadores portugueses e as suas organizações de classe não lhes darão tréguas e tudo farão para derrotar a política de direita e impor um novo rumo para o País, por Abril de novo.

E sabendo tudo isto, os donos disto tudo não correrão riscos: se considerarem que o governo de Bloco Central é o menos arriscado, tomarão as medidas necessárias para que ele se concretize.
E se assim for, os líderes dos partidos da política de direita farão o que lhes for dito.
E os analistas de serviço analisarão de acordo com o que os patrões disserem.
Porque é para isso que servem, uns e outros, enquanto serventuários do grande capital
Tudo o resto é folclore.

5 comentários:

samuel disse...

Folclore... mas daqueles ranchos do SNI. Lembras-te?

Abraço

filipe disse...

Sobre a politiquice rasteira, a "política" televisionada, sobre a "partidarice" dos partidos do sistema - sobre "o outro lado" - está tudo dito e bem dito. É a questão da relação entre as direitas orgânicas e a direita de classe, e, nesta relação, quem decide é a direita de classe, transversal (e mandante) a todos eles.
Um abraço!

Antuã disse...

A direita arranja sempre maneira de se prolongar no poder apesar de todas as desgraças. Até quando?!...

Ana Camarra disse...

Folclore e muito mauzinho, da pior qualidade é o corridinho tocado a orgão electrónico...

beijos

Fernando Samuel disse...

samuel: se lembro!...
Um abraço.

filipe: assim tem sido e assim será, até que...
Um abraço.

Antuã: até termos força para acabar com as patranhas...
Um abraço.

Ana Camarra: boa imagem...
Um beijo.