POEMA

PRIMEIRO RETRATO DO NATURAL


Ela queria perceber o que se passa.
Queria?

Passa a rua às risadas.
«Uscumunistas?»

Gritam flores da jarra.
Estão inocentes?

O telefone terrinta.
É o destino?

Na bandeja de prata, o sedativo.
Por tomar?

Na sala das porcelanas, a senhora.
Por viver.

*

De sentinela à porcelana
está Inês ou Teresa ou Ana
(Maria, deixa-se ver).
Tem à mão uma bengala
para o que der e vier:
«Se os bolchevistas entrarem,
vão ver, vão ver!
As porcelanas inteiras
é que eles não hão-de ter!»

*

Porcelana implora
Senhora insiste.
Até que a levam prà cama,
pauzinho em riste, zangada.

É uma terrina vazia
que em sonhos se suicida
à bengalada.


Alexandre O'Neill

7 comentários:

samuel disse...

Ficaram os filhos a defender as loiças e as cristaleiras...
Ah... e tanta pedra boa, aí... por atirar...

Abraço.

Maria disse...

Mas os bolcheviques haviam de querer as porcelanos para quê?

:)
Um beijo grande.

GR disse...

Ficou ainda muita gente, para nos desatinar!
Samuel
As pedras? bem guardadas...podem vir a dar muito jeito.

Bjs,

GR

Fernando Samuel disse...

samuel: dizes bem: tanta pedra boa...
Um abraço.

Maria; dos desígnios dos bolcheviques sabe-se apenas que são sinistros...
Um beijo grande.

GR: as pedras são para atirar,não é?...
Um beijo.

Mário disse...

Sou contra este apelo à violência.

Graciete Rietsch disse...

"Uscumunistas" são maus?????
Mas que medo eu tenho dos anti-comunistas!!!

O O`Neill era brincalhão mas dizia coisas.

Um beijo.

Graciete Rietsch disse...
Este comentário foi removido pelo autor.