A CAMA QUENTE
Homenagem aos mineiros do Chile
que dormem, singelo,
pelo sistema da «cama quente»
Na mina trabalha-se por turnos.
Quando se volta, nem se tiram os coturnos.
Bebido o café negro e trincado o casqueiro,
joga-se o corpo ao sono, mas primeiro,
enxota-se o camarada da cama ainda quente,
que não há camas, no Chile, pra toda a gente.
Do calor que sobrou o nosso se acrescenta
pra dar calor ao próximo que entra.
Vós, que dormis em camas, como reis,
tantas horas por dia, não sabeis
como é bom dormir ao calor de um irmão
que saiu ao nitrato ou ao carvão
e despertar ao abanão (é o contrato!)
de um que chega do carvão ou do nitrato!
É a este sistema, minha gente,
que se chama no Chile «a cama quente»...
Alexandre O'Neill
4 comentários:
Terrível este poema .
Mal sabia Alexandre O`Neill a grande homenagem que prestaria aos mineiros chilenos.
Um beijo.
A cama quente dos mineiros do Chile e de tanta gente da nossa terra!
Belo poema de O'Neill.
Um beijo grande.
E cá em cima, anos depois, a "cama mediática" dos que nada fizeram para mudar o modo como vivem (e morrem) os mineiros.
Abraço.
E por todo o mundo, ainda continua a não haver camas, pra toda a gente.
Muito bonito e triste este poema.
Bjs,
GR
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