«COM TODA A LIMPEZA»

Escrito por João Rendeiro - ex presidente do BPP - e com prefácio de João Cravinho - ex ministro de Guterres - foi publicado em Novembro passado o livro «Testemunho de um Banqueiro».
Trata-se, como sublinha o DN (que dá a notícia), do primeiro livro publicado em Portugal sobre a vida de um banqueiro - e escrito pelo próprio.
Com ele pretendiam, o autor e o prefaciador, certamente, gravar para a história um caso exemplar de sucesso empresarial, uma demonstração clara da superioridade do sector privado em relação ao público, etc, etc.

É claro que o livro e o prefácio foram escritos antes de descoberta a falência do BPP e de todas as múltiplas ocorrências a ela ligadas.
Por isso, o escrito de Cravinho é um elogio entusiástico ao êxito, às capacidades, ao talento, à personalidade de Rendeiro.

A constatação por Cravinho das excelsas capacidades e qualidades de Rendeiro começou mal se conheceram, ou melhor: «mesmo sem o conhecer bem pessoalmente», Cravinho apercebeu-se «desde logo da sua craveira intelectual e carácter»...
Ou seja: o sucesso de Rendeiro estava à vista...

Daí que o estrondoso «êxito» do BPP não tenha constituído qualquer surpresa para Cravinho, como ele próprio nos diz:
«Hoje, não carece de demonstração o sucesso da ambiciosa e inovadora estratégia empresarial que (Rendeiro) vem prosseguindo em torno do Banco Privado Português»...
Ou seja: palavras para quê?: é um banqueiro português de sucesso em acção...

E, a propósito da «personalidade de Rendeiro e da ambição que o moveu», escreve Cravinho:
«Chegar mais alto pelo seu próprio mérito, com toda a limpeza, é também apontar caminhos aos outros, um pouco como quem abre portas a futuras marés que levantam os barcos à medida que a linha de água sobe».
Ou seja: como Cravinho vinha demonstrando, Rendeiro é um exemplo a seguir pelos «outros»...
Especialmente se o fizerem «com toda a limpeza» - e, isto digo eu, se não se deixarem caçar...

8 comentários:

samuel disse...

É realmente com toda a limpeza, que têm "limpo" os bolsos dos portugueses.
A única mácula nessa limpeza é mesmo o triste facto de alguns, mesmo sendo só alguns, se terem deixado apanhar...

Anónimo disse...

Gostei especialmente das marés que levantam os barcos à medida que a água sobe. Que poético! Que imagem tão condizente com o papel dos banqueiros!
Afinal o Cravinho também é flor que se cheire!
Abraço

Maria disse...

Há sempre os muito espertos, os espertos e os menos espertos.
Encontram-se quase sempre no mesmo saco, mas quem se safa "com toda a limpeza" é quem salta primeiro do barco, como os ratos...

Um beijo grande

Crixus disse...

Que nojo, desta limpeza. E não tem pudor em se dizer "socialista", esse Cravinho. O outro, como banqueiro, já se sabe que é uma excelsa pessoa, mas alguem ter coragem (ou um preço, tanto faz) para escrever isto...

Anónimo disse...

Muito gostoso, em particular a referência final à "limpeza"!
Mas que azar o do Cravinho,justamente agora que tão afanosamente vinham vendendo a sua imagem de um socialista campeão no combate às trafulhices e corrupçõezinhas do sistema...
Um abraço.

Anónimo disse...

O Cravinho felizmente não é vermelho. Tem mais tendência para o ridículo esse "lutador" contra a corrupção.

Fernando Samuel disse...

samuel:a confirmar que não há limpeza sem mácula...
um abraço.

Aristides: o panegírico do banqueiro destapou-lhe a veia poética...
Um abraço.

Maria: neste caso, podemos falar de ratazanas...
Um beijo grande.

crixus: mas quem é que não é «socialista» no P«S»?...
Um abraço.

júlio filipe: o mais... sei lá, engraçado?, trágico?... é que o homem diz que, mesmo depois do que já se soube sobre o banco do rendeiro, voltaria a escrever este prefácio.
Um abraço.

Antuã: nem sequer vermelhinho...
Um abraço.

Ana Camarra disse...

Fernando Samuel

Ocorrem-me outros titulos para esse livro:

"Manuel do Crime de Colarinho Branco"
"Como roubar uma nação com sucesso"
"Como a alta finança e a politica corrupta se completam"
etc

beijo