POEMA

AMEAÇA DE MORTE


Não basta ter-me dado nos meus versos:
pedem a carne e a pele, os inimigos.
Os olhos, dois postigos
de olhar o mundo sem ninguém me ver,
querem-nos entaipados;
e quebrados
os braços, que eram ramos a crescer.

Luto, digo que não, peço socorro,
mas saíu-me ao caminho uma alcateia.
Lobos da liberdade alheia
que me seguem os passos hora a hora,
sem que eu possa sequer adivinhar,
na paisagem do medo tumular,
qual deles salta primeiro e me devora.


Miguel Torga

4 comentários:

Maria disse...

Mesmo a propósito... cada vez mais temos de ter os olhos bem abertos e estarmos vigilantes. Em tudo.

Um beijo grande.
(invejo-te... abraça-a por mim.)

GR disse...

Novamente teremos de dizer:
"Alerta camarada!"

BJS

GR

Graciete Rietsch disse...

Os animais ferozes continuam a uivar. Não digo "os lobos" que são ótimos animais que só atacam se têm fome ou são atacados.
Poema lindo e forte.

Um beijo.

samuel disse...

Grande!

Se o teu programa se "manteu" (como ainda agora ouvi na televisão)... boa viagem, boa estadia... e que a minha "inveja" não te estrague a disposição! :-)))

Abraço.