ESCOPRO DE VIDRO
Estou aqui construindo o novo dia
com uma expressão tão branda e descuidada
que dir-se-ia
não estar fazendo nada.
E, contudo, estou aqui constuindo o novo dia.
Porque o dia constrói-se; não se espera.
Não é sol que deflagre num improviso de luz.
É um orfeão de vozes surdas, um arfar de troncos nus,
o erguer, a uma só voz, dos remos da galera.
Cantando entre os dentes
um refrão anidro abro linhas quentes
com um escopro de vidro.
Abro linhas quentes
sem tremer a mão,
com um escopro de vidro
de alta precisão.
António Gedeão
2 comentários:
O meu computador tem estado avariado e ainda não está bom.Por isso, por hhoje, só um beijo.
Que escopro precioso...
Tem razão o poeta, o novo dia constrói-se! Todos os dias.
Um beijo grande.
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