RETRATO DO PAÍS

Eis um retrato do País, tirado por notícias e títulos dos jornais da última semana:


«São mais de 300 mil os que passam fome em Portugal»

«12% da população activa não ganha o suficiente para sustentar a família»

«Cantinas de Gaia dão quatro refeições por dia a 14 mil crianças»

«Já não são só os sem-abrigo a procurar as carrinhas de distribuição de comida»

«Igreja já não tem dinheiro para dar aos pobres»

«Banco Alimentar bateu recorde de ajuda aos pobres»

«Recebemos todos os dias pedidos de ajuda de pessoas sem dinheiro para comer, para medicamentos, renda, água ou uma botija de gás para cozinhar»


Esta recolha de dados que fiz, não resultou de uma busca exaustiva: trata-se de notícias ou títulos que me foram saltando à vista e que, pela brutal desumanidade que espelham, registei.
A situação é, certamente, muito, muito pior do que estes dados mostram.

Em todo o caso, são notícias que evidenciam inequivocamente o estado real dos direitos humanos em Portugal - quer pelo que em si próprias significam, quer pelo que revelam sobre as medidas de «combate à pobreza e à fome» que os governantes vão anunciando nos dias santos...
Repare-se que, em todas estas notícias relacionadas com a fome que atinge centenas de milhares de portugueses, o «combate à fome» aparece ligado a assistencialismo, caridade, etc...

É claro que esta realidade não entra nos dados estatísticos sobre o estado dos direitos humanos, já que, como é sabido, para os executantes da política de direita e para os seus propagandistas de serviço, o direito à alimentação não é um direito humano fundamental...

Foi a isto que 34 anos consecutivos de política de direita - sempre praticada pelo PS e pelo PSD (sozinhos, de braço dado, ou com o CDS/PP atrelado) - conduziram o País.
E em Janeiro próximo, quando aos brutais cortes nos salários e pensões se juntar o brutal aumento dos preços, tudo vai agravar-se...

Não ponho em causa as boas intenções das instituições assistencialistas e os problemas que, de facto, vão ajudando a resolver a muitos milhares de pessoas.
Mas não é assim que o problema da fome se resolve.
Só com uma mudança de política, com a implementação de uma política ao serviço dos interesses dos trabalhadores, do povo e do País, é possível acabar com essa terrível realidade.

E essa mudança de política, é a luta de massas que a concretizará.
Mais tarde ou mais cedo, consoante as fragilidades ou a força dessa luta.

Por isso... a luta continua!


9 comentários:

samuel disse...

Infelizmente a nossa sociedade ainda vai na fase do "deus nos ajude a acudir aos pobrezinhos" e "deus nos livre de questionar os culpados pela pobreza".

Abraço.

Manuel Rodrigues disse...

Perante isto, apetece citar, de novo, Bertold Brecht:

"De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?

De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver com os não-livres?

De que serve a razão
Quando só a sem-razão consegue a comida de que cada um precisa?

Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor:
A faça supérflua!

Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!

Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio."

Anónimo disse...

A fome abateu-se sobre o nosso povo. É necessário que ele descubra onde estão as causas.

Antuã

Graciete Rietsch disse...

A caridade não garante só um lugar no céu a quem a pratica . Também vai dando alguns lucrozitos aos seus mandatários. (Não digo mais porque é Natal e é preciso utilizá-la bem para melhor adormecer os que sofrem). E vai haver eleições!!
Triste ironia esta!!!!

Um beijo.

Maria disse...

A luta continua, até porque é este o único caminho.
Mas quando raio é que este povo acorda?

Um beijo grande.

Janaina Cruz disse...

O caos econômico está por todos os lugares, resta-nos lutar, e nunca desistir, mas as vezes me pergunta, não será utopia? Será se algum dia tudo muda? Espero que sim, desejo étimos festejos de fim de ano.

svasconcelos disse...

Exactamente! A alimentação insere-se num conjunto de direitos elementares que assistem à humanidade, e que as políticas praticadas mercantilizam por via de processos capitalistas. A erradicação da pobreza não se resolve com políticas SOS, de caridade ( parece que agora também é argumento basilar de campanhas políticas, com ostentações de vaidades, mui nobres, claro...)mas com uma programação séria e responsável que assegure direitos sociais, como o emprego.
Sim, é importante lutar, cada vez mais!
Um beijo,

Eduardo Miguel Pereira disse...

Eu continuo a perguntar-me que mais é necessário acontecer para que a mudança no sentido de voto aconteça ?
34 anos é muito tempo, pá !
Esta gente está à espera do quê ?

A luta continua, de facto, camarada !

Fernando Samuel disse...

samuel: «pobrezinhos mas honrados»...
Um abraço.

Manuel Rodrigues: oportuníssimo e actualíssimo, o Brecht - como sempre.
Um abraço.

Antuã: quando ele descobrir isso... tudo será diferente...
Um abraço.

Graciete Rietsch: a caridadezinha é das coisas mais rentáveis que há...
Um beijo.

Maria: é a luta que o acordará...
Um beijo grande.

Janaina Cruz: com a luta, tudo é possível - inclusive concretizar as utopias...
Um bom fim de ano, também para ti.

smvasconcelos: os responsáveis pela fome têm a sua maneira de pensar...
Um beijo.

Eduardo Miguel Pereira: o voto, só, não chega para a mudança... se chegasse, já les tinham acabado com as eleições...
A luta de massas é que é!
Obrigado pela visita e pelo comentário.
Um abraço, camarada.