«Fazer caridade», foi uma expressão criada pelo fascismo quando, nos anos 30, Salazar levava por diante o brutal processo de fascização do Estado que mergulhou Portugal na opressão, na repressão, na exploração, no obscurantismo, na miséria.
Aos domingos e dias santos, as esposas e filhas dos chefes do regime e dos senhores do grande capital, saíam a «fazer caridade»: distribuíam pão, arroz, açúcar, restos de comida e roupas velhas aos pobres.
Os jornais da época registavam e enalteciam as acções de caridade das damas de branco de então - e Salazar louvava publicamente essas iniciativas.
Com isso, o fascismo matava dois coelhos com uma só cajadada: por um lado, apresentava a pobreza e a exploração que a gerava como inevitabilidades; por outro lado, apresentava os responsáveis pela pobreza como pessoas de bem, credoras da eterna gratidão dos pobres...
Lembrei-me disto ao ler as notícias sobre o lançamento, ontem, da campanha «Direito à Alimentação», promovida pela Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), e que consiste em dar aos famélicos da terra portuguesa, ao fim do dia, os restos de comida dos restaurantes - se há-de ir para os porcos...
A campanha podia muito bem chamar-se «Fazer caridade», mas reconheça-se que a designação escolhida tem mais «modernidade», isto é, expressa melhor a diferença (ou a semelhança...) existente entre o regime fascista e o actual regime de política de direita...
Todavia, a confirmar que «os longínquos tempos do fascismo» não são assim tão longínquos..., eis que entra em cena o Presidente Cavaco e declama em voz-de-papo: «Louvo esta iniciativa que constitui um verdadeiro exemplo de como as instituições da sociedade civil podem dar um verdadeiro contributo para um Portugal mais coeso, mais unido e solidário».
É caso para dizer que Salazar não louvaria melhor...
Mas Cavaco não é só isto... e, qual anjo anunciador da Boa Nova, informou que a última «recolha do Banco Alimentar contra a Fome foi a maior de sempre», o que quer dizer que «num momento de crise as pessoas sentem necessidade de manifestar a sua solidariedade em relação àqueles que sofrem».
É caso para dizer que Salazar não anunciaria melhor...
Onde Cavaco fica a perder com Salazar é na língua (refiro-me à Língua Portuguesa, obviamente): o homem que veio de Coimbra fazia questão de a falar e escrever correctamente; o gajo que veio de Boliqueime trata-a com os pés, submetendo-a a tratos de polé que constituem autênticos actos de terrorismo.
Ouçamo-lo:
«Nós temos de nos sentirmos envergonhados por estarmos no século XXI, Portugal ser uma democracia, ser um país que, apesar de tudo, está num desenvolvimento acima da média, no entanto, alguns de nós, alguns portugueses, sofrem de carência alimentar».
Direi mesmo mais: «Nós temos de nos sentirmos envergonhados por estarmos no século XXI» e termos como PR uma coisa que fala assim...
16 comentários:
Muito bom o post camarada!
Está-lhe na massa do sangue essa coisa da caridadezinha de má memória.
"«Nós temos de nos sentirmos envergonhados por estarmos no século XXI» e termos como PR uma coisa que fala assim..." e que come bolo-rei de boca aberta...
Um beijo grande.
Ele caté falou quase bem. Ora vejamos: "Nós temos de nos sentirmos envergonhados por (...)Portugal ser uma democracia". Por pudor, penso eu, não completou a expressão... democracia burguesa, que é o que ele defende, à falta do Estado Novo, onde ele estava bem enquadrado.
um abraço
"Temos de nos sentirmos"... e mesmo "sentimos-se"... pelo menos alguns, de cada vez que ele fala.
Abraço.
"Menina rica deu um bodo aos pobres
Pela primeira vez pôs avental
Falaram do seu gesto nobre,
Com palavrinhas doces, no jornal
..................................
..................................
Os pobres continuam pobres
Menina rica nunca mais pôs
avental"
Excerto de um poema ,daqueles muitos que eu lia antigamente, cujo autor não recordo.
Será Armindo Rodrigues, Joaquim Namorado, ou algum de tantos outros que o CRAVO DE ABRIL aqui tem apresentado?
Não à Caridade! Em Frente pela Justiça!
Um beijo.
O babas é uma anedota sem graça nenhuma.
Um abraço
Subscrevo todo o teu post, vai ao encontro do que tenho pensado, debatido e defendido nos últimos tempos... tenho ogeriza à caridade que se pratica, pois não é mais que uma máscara usada pelos pulhas que promovem a pobreza pelas políticas erradas, pela incúria dos seus actos, pela gestão de rendas públicas de forma criminosa e que querem apenas transfigurar os seus actos irresponsáveis numa cosmética de imagem. É verdade que eu não viro a cara aos bancos alimentares e afins, mas esta não é a solução como nos querem impingir! É preciso mudar e lutar por reorientar toda a política social e económica, para que se revertam os promotores da pobreza.
Quanto ao Cavaco, nunca o achei particularmente esperto,é verdade,mas afinal também é iletrado...
Vergonha, ter um PR destes!
Um beijo,
para poder ter uma leitura independente do blog tenho de lhe perguntar o senhor é comunista?
Este gajo faz cada vez mais lembrar o Américo Thomaz.
Ó triste Boliqueime, que desgraçada aventesma havias de ter parido...
Rui Silva
Em simultâneo, este indivíduo iletrado e sempre com ar sizudo, insiste em fazer de todos nós uns palermas ignorantes. Recordando aqui o célebre FMI de José Mário Branco: "...a culpa é de todos em geral e de ninguém em particular...". Ora este indivíduo enquanto falava, fez de conta que nós não sabemos que ele é um dos principais responsáveis pela situação actual. Se assim não fosse, antes de falar em vergonha, os 10 anos como primeiro-ministro e 5 como PR dar-lhe-iam a ele vergonha suficiente para não se recandidatar a PR e a manter-se bem longe dos portugueses.
Um grande abraço.
Camarada, "nós também temos de nos sentirmos envergonhados da triologia Cavaco-SLN-BPN, que lhe garatiu uns "cobres" valentes".
Mas atenção, o melhor é termos cuidado com o que aqui escrevemos, porque ainda podemos estar a ser vítimas de "escutas", porque lá nisso das "escutas" é o "algarvio" um "sinhor" !
J: visitei o teu «Viver é bom - proclamas» - e gostei.
Um abraço e bom trabalho.
Maria: é tão pequenino, não é?...
Um beijo grande.
alex campos: o Estado Novo é a grande referência dele...
Um abraço.
samuel: deixá-lo falá-lo que ele calalar-se-á...
Um abraço.
Graciete Rietsch: esse é do Sidónio Muralha - outro grande.
Um beijo.
CRN: uma anedota para fazer chorar..
Um abraço.
Smvasconcelos: se ele tivesse vergonha, demitia-se...
Um beijo.
1143: qualquer pessoa medianamente inteligente (como presumo que você seja), lendo 2 ou 3 dos meus posts, facilmente concluirá sobre as minhas opções políticas, ideológicas e partidárias - pelo que considero desnecessário responder à sua pergunta.
A.Silva: dá parecenças, dá...
Um abraço.
Rui Silva: há terras que, sem terem culpa nenhuma, sofrem muito...
Um abraço
Vermelho Vivo: se ele tivesse vergonha...
Um abraço grande, meu amigo.
Eduardo Miguel Pereira - tens razão: todo o cuidado é pouco...
Um abraço.
Camarada,
Ácerca da tal caridadezinha, encontrei esta "pérola" do nosso José Barata Moura:
http://www.youtube.com/watch?v=VDNjIuY1Z2w
Saudações comunistas (para saberem ao que vimos)
Jorge Gomes
Jorge Manuel G: uma pérola, dizes bem.
Um abraço.
que grande post! um grande abraço
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