AMOR A DOER
Beijos.
Carícias.
Este infinito sentimento
no recíproco amor homem e mulher
para jamais nos esquecermos de vez
do amor dos amores mais amados
o amor chamado pátria!
Mordaças
Palmatoadas
Calabouços
Anilhas de ferro nos tornozelos.
E no infinito amor a doer
também o infantil beijo dos filhos
a magoada ternura incansável da esposa
um cobertor grande e um pequeno para os quatro
e numa tábua despregada no chão
escondido o jornal a falar do Fidel.
E nem que nos caia em cima o argumento
de cigarro na boca e lúgubre revólver em cima da mesa
não mostraremos o papel guardado na tábua do soalho
ali a fazer do amor escondido
o futuro de um povo.
(1958)
José Craveirinha
(In Cela 1)
4 comentários:
A tortura física é horrível e mata.
Mas a tortura psicológica era terrível, nada a apaga.
Tão doce é o Craveirinha, mesmo quando descreve o horror.
GR
gr: creio que a data atribuída a este poema (1958) está errada: deveria ser 1968, altura em que o Poeta estava preso (esteve preso 4 anos) e a ser submetido às torturas referidas no poema - designadamente os cigarros apagados no corpo...
Não conhecia a poesia de José Craveirinha, mas fico com grande curiosidade para conhecer mais profundamente. Entretanto vou lendo aqui no Cravo de Abril. Obrigado e abraço
crixus: vou postar aqui mais alguns poemas do José Craveirinha.
Um abraço amigo.
Enviar um comentário