Creio que o meu - o NOSSO - orgulho ao erguermos o cartão do PCP, no dia 1, foi igual ao orgulho de que Maiakovski nos fala nestes
VERSOS SOBRE O PASSAPORTE SOVIÉTICO
Podia devorar
como um lobo
toda a burocracia,
não é comigo
o respeito
por mandatos,
e mando
para o diabo
que os carregue
todos os «papéis».
Menos aquele...
Passando ao longo
dos compartimentos
e cabinas,
um funcionário,
e que polido,
avança.
Cada um apresenta o passaporte,
e eu,
dou
o meu
pequeno bilhete escarlate.
Para alguns passaportes
há sorrisos,
para outros -
vontade de os cuspir.
Têm, por exemplo,
o direito ao respeito
os passaportes
com o leão inglês
em dois lugares.
Devorando
com os olhos o grande personagem,
fazendo saudações e curvaturas
pega-se,
como numa gorjeta,
no passaporte
de um americano.
Para o polaco
há o olhar
da cabra frente ao edital.
Para o polaco -
uma fronte enrugada
num elefantismo policial -
de onde vem este
e que são
estas inovações na Geografia?
Mas é sem voltar
a abóbora-cabeça,
sem experimentar
qualquer emoção forte,
que se aceita
sem pestanejar
os papéis do dinamarquês
e dos suecos
de todas
as espécies.
Súbito,
como lambida
pelo fogo,
a boca
do cavalheiro
se torce.
O senhor
funcionário
tocou
a púrpura deste meu passaporte.
Toca nele
como se fosse bomba,
toca nele
como se fosse ouriço,
toca nele
como em cobra cascavel,
de vinte dentes,
de dois metros e mais de comprimento.
Cúmplice
piscou
o olho do carregador
que está pronto
a carregar, de graça as minhas malas.
O agente
contempla o chui,
e o chui
o agente.
Com que volúpia
me teria,
a espécie policíaca,
batido, crucificado,
porque
tenho nas mãos,
trazendo foice
e trazendo martelo,
o passaporte soviético.
Podia devorar
como um lobo
toda a burocracia,
não é comigo
o respeito
por mandatos,
e mando
para o diabo
que os carregue
todos os «papéis»,
menos aquele...
Das minhas
profundas algibeiras tirarei
o atestado
deste enorme viático.
Leiam-no bem,
Invejem -
eu
sou um cidadão
da União Soviética.
Maiakovski
7 comentários:
Ao ler-mos esta poesia de Maiakovski, sentimos que estamos na presença de alguém que dá a vida pelo seu ideal!
Este Homem para além de poeta é um REVOLUCIONÀRIO!
Abraço
José Manangão
josé manangão: talvez possamos dizer que ele foi o Poeta da Revolução de Outubro como o Zé Carlos foi o Poeta da Revolução de Abril.
Abraço amigo.
Num outro post escrevi, “Senti o “peso” do cartão que brilhava na minha mão estendida.” Queria eu dizer responsabilidade, orgulho, uma força que nos vem cá de dentro.
O grande poeta russo Maiakovski diz neste poema o que eu sinto.
Fez-me tão bem ler este poema!
GR
gr: foi esse «peso» que o Maiakovski sentiu.
Um beijo amigo.
Porque ser MILITANTE é fazer das ideias modo de vida e por isso mais do que ideias passam também, ainda que por instantes, a ser sentimentos....
foi muito, muito bonito e não nos cansamos de o demonstrar...
beijo grande
M
maçã de junho: dito de outra forma: ser MILITANTE é uma opção de vida.
Um beijo amigo.
Um dos poemas mais bonitos... que já li.
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