POEMA

DA «CARTILHA DE GUERRA ALEMû


A guerra que aí vem
não é a primeira. Antes dela
houve outras guerras.
Quando a última acabou
houve vencedores e vencidos.
Entre os vencidos, o povo baixo
passou fome. Entre os vencedores
passou fome também o povo baixo.

Na parede estava escrito a giz:
«Queremos a guerra».
O que escreveu isto já caíu morto.

As raparigas
à sombra das árvores da aldeia
escolhem os namorados.
A morte
escolhe também.

É noite.
Os casais vão deitar-se nas camas.
As mulheres novas
vão parir filhos órfãos.

Brecht

8 comentários:

GR disse...

Impressionante!
Os poemas de Brecht avisam.
Foi ontem, amanhã também pode ser!
Só não sabe, quem não quer ler.

Brecht, Sempre!

GR

Fernando Samuel disse...

gr: com palavras simples, Brecht alerta-nos para coisas complexas e importantes.

Sal disse...

Estava a começar a ler e já me estava a parecer Brecht.
É único, mesmo.

Viva Brecht
Obrigada Fernando Samuel, pela tua excelente escolha.

samuel disse...

Belo "pedaço de poesia" para escrever numa folha de lixa e ir esfregar nas trombas dos que ainda hoje, fazendo coro com Bush, acham a guerra no Iraque uma guerra "nobre, necessária e justa", como Pacheco Pereira e outros pensadores da praça.
Eu sei que esfregar lixa nas nas trombas não é maneira de se argumentar, só que o tempo de argumentar com alguma dessa gente, passou.

Abraço.

Off Topic, aproveito para informar também aqui, que já enviei um mail para o João Galamba, confirmando a minha intenção de vos ajudar a apagar a velinha do aniversário, em Peniche.

Antonio Lains Galamba disse...

aproveito o Brecht (belo poema, por sinal, como todos os que escreveu!) para dizer que enviei mail ao sr Pedro Mexia dizendo-lhe umas coisas... acerca da juventude, dos blogues, e dos jovens comunistas. Aguardo (sentado, para o efeito) resposta!

Antonio Lains Galamba disse...

SAmuel: Boa boa boa! nem sabes como me alegra essa tua ajuda para apagar a velinha! Quero ouvir a fala do homem nascido! Ate lá então, camarada!

Justine disse...

Poema belo e atroz, no que tem de actual e premonitório.
É importante reler Brecht, sempre

Fernando Samuel disse...

sal: ele «anuncia-se» com as primeiras palavras...

samuel: aí está uma utilização que o Brecht aprovaria...

antonio lains galamba: vamos então, todos, apagar a velinha e cantar - de preferência, ouvir cantar...

justine: Brecht tem esta característica de estar sempre actual (não é essa uma das partes integrantes da Arte?)