O FISCO E A GRALHA

Segundo o Público de hoje, a partir de agora os recém-casados são obrigados a enviar para o Fisco um vasto rol de informações sobre o seu casamento, género:

a data do casamento, o número de convidados e o valor pago por cada um (especificando crianças e adultos); o nome (e restantes dados fiscais) de quem serviu os comes e bebes; a forma de pagamento utilizada pelos noivos: dinheiro, multibanco ou cheque (e, se foi por cheque, o nome do banco, o número e a data do respectivo cheque)...

Trata-se, de uma forma expedita de o Fisco pôr os recém-casados ao seu serviço, fazendo o que a ele, Fisco, compete fazer - com a agravante de serem penalizados caso não cumpram a ordem.
Mas mais do que isso: de acordo com a ordem do Fisco, os recém-casados devem enviar fotocópias de todos os documentos e, importante!, assinarem ambos a declaração - presumo que para co-responsabilizar o casal no caso de falta ou de incorrecção de alguns dados.

Mas mais e pior do que isso: da ordem do Fisco consta ainda a obrigatoriedade de os recém-casados informarem sobre se, no mesmo local e no mesmo dia em que casaram, houve outros «eventos» semelhantes...
Neste caso, como se vê, o Fisco dá ordem de delação, o que constitui um significativo passo em frente nos métodos e práticas de vigilância, de perseguição e afins que caracterizam a política do actual Governo.

A resposta dos recém-casados ao interrogatório do Fisco deverá ser enviada no prazo máximo de 15 dias, sendo o não cumprimento deste prazo considerado «contra-ordenação fiscal punível com coima» - cuja será de 100 a 2.500 euros.

Por enquanto, as perguntas não se reportam, ainda, a aspectos mais íntimos próprios de dia, e noite, de casamento... não sendo, contudo, de excluir que a próxima série inclua ordem de informar sobre, por exemplo, a noite de núpcias: hotel em que ficaram, quanto e como pagaram, quantas vezes fizeram sexo, se «foi bom», que contraceptivo uilizaram (se utilizaram) e qual o custo do dito, etc, etc, etc.

Assim, o orwelliano Big Brother vai avançando na centralização de dados sobre cada cidadão de forma a que, quando precisar... é só carregar no botão e está lá tudo.

Passemos agora à GRALHA:
«Fisco multa noivos que não derem informações sobre o casamanto»- titula o Público na sua primeira página.

Esta gralha vai ser motivo, certamente, de múltiplos comentários, e amanhã será tema de inevitável pedido de desculpas aos leitores - talvez, até, em Editorial assinado pelo Director.
E, possívelmente - para não dizer certamente - será lembrada a prosa ontem produzida pelo Provedor do Leitor (assim chamado), Joaquim Vieira, o qual, em resposta a protestos de alguns leitores, precisamente por gralhas assinaladas no Público, escreveu uma peça de descarada e entusiástica propaganda ao jornal de cujos leitores ele é suposto provedor.
Dizia assim (com sublinhados meus) em jeito de: «Recomendação do provedor. Um jornal que aspira a ser o principal diário de referência nacional, e que em editoriais sucessivos reclama para Portugal a aplicação dos mais elevados padrões de exigência, deve combater a displicência sujeitando toda a matéria a publicar a rigoroso processo de copy-desk e revisão».

A confirmar que em vez de provedor do leitor, deveria chamar-se provedor do patrão...

5 comentários:

Anónimo disse...

... e a farmacinha? E a farmácia onde foi comprado o preservativo, perdão, os preservativos porque para noite de núpcias... E como foram pagos, enquanto não obrigarem TUDO a pagamento por cheque
Onde isto chegou, meus amigos.
Quanto ao provador, perdão, ao provedor, é um "artista português" cheio de copy desk!

Fernando Samuel disse...

Tudo!, provedor incluído...

GR disse...

É revoltante a situação que estamos a viver!
Estou com um misto de revolta, nojo, asco ao PS e ao seu governo, cada vez mostrando o que escondeu durante muito tempo, a ideologia fascista de Salazar.
Há pobreza, emigração, desemprego, fome, tristeza nos olhares, medo, delatores, há tanta coisa de 24 de Abril.
O que me causa maior indignação e revolta é (como pediu hoje o secretário das finanças) o “colaboracionismo” do cidadão e eles dão! Nem todos.
Quanto ao pasquim diário…é o panfleto do Sistema.

Não é este governo (que raiva têm aos vestidos de noiva, porque será???) que me fará cruzar os braços.
Medidas assim activam a Luta, dando-nos mais força para combater este desgoverno.

GR

Fernando Samuel disse...

gr: enganei-me sobre a GRALHA o Público do hoje assobia para o lado...

Anónimo disse...

Até porque, como sabemos, assim que todos os noivos cumprirem à risca o seu mandato de Vigilantes na Defesa do Estado, acaba-se a fraude fiscal em Portugal, o IVA baixa ainda mais (imagine-se!) e a justiça fiscal será, finalmente, uma realidade. Enfim, estaremos quase no socialismo. Vivam os novos noivos VDE!