Volto ao dia um, horas que na realidade nunca abandonei, nem me abandonaram, tal o entusiasmo e a alegria legada... porque não se esquece a força do colectivo, nem a destes olhos que me comoveram ao olhar-me através da máquina que,
aparentemente, me escondia. Fundo, fundo. desbravando dentro de mim os incultos do silencio, os lugares por arder onde ir buscar, nos momentos mais crus, a força que às vezes falta para gritar! Cada ruga trazia vincada a seara onde sangrou o pão dos filhos, brasa dura onde ardeu em silêncio a raiva contra o latifúndio que lhe mordia as entranhas em fome canina. E nem uma gota de ódio, nem uma poeira de vingança... apenas os olhos cheios de uma ternura quase incompreensível, não fosse esta mulher alentejana e camarada. Comunista! Comunista! Ternura de quem sabe que venceu, ainda que aparentemente vencida. Ninguém passa pela vida amando verdadeiramente se morre sem apalpar a brassadura da planície... Mil quinhentas e vinte rugas. E dois olhos amêndoas invadindo o Rossio exigindo o pão dos filhos, que ganhou, mas que lhe querem tirar! Mil quinhentas e vinte rugas desfilando, não mostrando alguma roupa da moda milanesa, mas o ideal maior de quem nasceu da fome hiante e dela fez mote para resistir aos domínios da morte!
Comovi-me a fotografá-la. Fui beijá-la. Não sei o seu nome. Mas imagino-o na minha comoção. Mariana? Catarina? Revolução.
Foto: Camarada de Vila Verde de Ficalho.
Comovi-me a fotografá-la. Fui beijá-la. Não sei o seu nome. Mas imagino-o na minha comoção. Mariana? Catarina? Revolução.
Foto: Camarada de Vila Verde de Ficalho.
6 comentários:
Bonita fotografia, como já vem sendo hábito.
A expressão do olhar é calma, olhando o futuro. Linda!
Belíssima descrição da Mulher, mãe lutadora, trabalhadora, da Mulher Comunista!
Parabéns!
Viva Abril!
GR
... e eu comovi-me a ler-te.... e não era suposto...
Obrigada, Camarada!
Viva Ficalho, Pias, Vale de Vargo e Aldeia Nova, terras que estiveram em força na MARCHA. Viva o Alentejo, Portugal e o PCP
Nós temos as melhores sementes, e isso não é obra do acaso!
São sementes que, resistiram, a todas as formas de privação, impostas pela ditadura, e que hoje sentem que têm autoridade moral par exigirem que os seus direitos sejam respeitados!
Felicito-te por este texto!
Abraço
José Manangão
Que linda cara, que bele fotografia!
Muito bom!
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