ANA E ANTÓNIO
A Ana e o António trabalhavam
na mesma empresa.
Agora foram ambos despedidos.
Lá em casa, o silêncio sentou-se
em todas as cadeiras
em volta da mesa vazia.
«Neo-realismo!» dirão os estetas
para quem ser despedido
é o preço do progresso.
Os estetas, esses, nunca
serão despedidos.
Ou julgam isso, ou julgam isso.
Mário Castrim
3 comentários:
Ao ler este bonito poema, lembrei-me.
Logo após a Revolução dos Cravos, Mário Castrim fez uma sessão na minha terriola.
Como seria o maior crítico de televisão? Estava curiosa!
Lá apareceu! Um homem baixo, magro, (na altura para mim) já velho, muito simples, direi mesmo, tímido.
A sala estava repleta de curiosos, impossível entrar mais uma pessoa, para se juntar às centenas que o esperavam. Castrim começou o debate dizendo: “não esperava ver tanta gente! têm a certeza que não estão enganados? eu só sou, o Mário Castrim!”
Falou, falou…calmamente, sem vaidade, com um sorriso tão lindo!
Depois desse dia tivemos o privilégio de o ouvir em mais três debates.
Foi para mim um grande privilégio ter conhecido o poeta, escritor, crítico e militante, Mário Castrim.
GR
Fico sempre emocionado quando se fala de Mário Castrim. Para mim, foi só a pessoa que me ensinou a ver televisão e através dela, o Mundo. Tenho uma dívida perante o Mário que nunca sanarei. A carta que projectei escrever-lhe em vida para lhe dizer o que significou para mim,não passou disso mesmo, de um projecto. A morte dele veio fazer com que nunca me perdoe de não lha ter enviado.
Vou só pedir licença ao Fernando para copiar esta pequena pérola (neo-realista, dirão os estetas). Linda!
gr: «eu sou só o Mário Castrim»: e que grande era esse «só»!
aristides: foi pena não teres escrito e enviado a carta ao Mário Castrim.
Sabes que foi assim, através de uma carta a dizer-lhe mais ou menos o que tu projectavas dizer-lhe, que eu conheci o Mário?
Escrevi-lhe para o Diário de Lisboa e ele respondeu-me marcando um encontro na Brasileira do Chiado.
E foi nesse encontro que nasceu entre nós uma muito grande amizade.
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